terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Só pelo medo de sofrer

Foram meses, talvez anos de sofrimento contínuo, às vezes esquecido em alguns momentos, mas como uma enxaqueca cretina, sempre lá, sempre se fazendo presente. Se você for mulher, image como sua cólica mensal: incomoda, mas você acaba acostumando. Tem vezes que até esquece (ou deixa pra lá) o remédio. A dor de não esquecer, de ter sido deixado pra trás, é mais ou menos assim. Martela num ritmo parecido a maior parte do tempo (conforme os dias piores vão indo embora, claro) e tem picos de dor maior.

Durou muito, pouco, durou tempo. Relativo demais, essa coisa de medir quanto demorou uma dor pra passar realmente. Não julguemos. Cada um sabe do próprio sentimento e, principalmente, da falta dele. Acabou passando e você pagou sua lingua quando se apaixonou de novo, quando conseguiu amar outra pessoa, em dias seguidos de noites sem fim de questionamentos 'nunca mais vou ser feliz de novo com alguém desse jeito' e 'jamais vou poder confiar'. Ufa. Fim do tormento, hora de se permitir alegrias.

Mas então, de repente, o amor pode acabar. As brigas podem tomar conta da maior parte do tempo, que deveria ser de coisas boas. A relação pode simplesmente ir deixando de existir, e quem sabe você mesmo pode ser o primeiro a perceber, ou até a querer isso... Ah, mas não. De novo, não. Você não quer, mais uma vez, ter que passar por aquilo tudo all over again. Por mais que você saiba que dá pra sobreviver - ainda mais agora, depois de ter superado uma barra, o que é só mais uma? -, você não quer.

E vai levando. Empurrando com a barriga, com os ombros, com as desculpas mais esfarrapadas, você se força. Você não quer sofrer de novo, o medo é maior do que o reconhecimento da percepção do fim que você já teve e vem tendo todos os dias. Às vezes, luta-se por um amor há muito já acabado, e pelo medo do fim, vai sendo levado às migalhas, vai sendo alimentado aos restos de um todo que foi ficando pelo caminho lá de trás. Mas você suspira, e vai deixando rolar.