quinta-feira, 18 de março de 2021

Mais um de 2018

É muito amor que ficou aqui. A gente acabou e eu fiquei sem saber o que fazer com tanto sentimento. Quem que eu vou amar? Saí amando os amigos mais ainda, sufoquei os sobrinhos e afilhados, fui amando cachorro e gato. O amor fica e a gente fica sem saber pra onde ir, sem saber pra onde amar.


E é por isso que eu tenho que tomar cuidado e não amar de graça. Veja bem, não é por mal. Mas se deixar, eu abraço causas que não são pra serem minhas só porque sobrou vontade de abraçar literalmente. Sobraram cafunés que não dei, carinhos por baixo da mesa, da coberta e no banco de trás do uber; sobrou mão dada pela rua. Sobrou.


Quando o amor fica sobrando, a gente quer derramar. Primeiro a gente espalha por quem tá por perto, e quando não é suficiente, quando se torna sufocante, a gente conhece gente nova pra pensar que o amor é novo. Mas ele é só o amor velho querendo amar de novo. 


E tá certo ele: amor é pra amar, pra postar nos stories primeiro e na timeline depois. Amor é chamar pra ir no aniversário do amigo, apresentar pra família e pro animal de casa conhecer o cheiro. Só que tudo isso tem que ser de verdade, tem que ser um amor brotado, e não reaproveitado da colheita anterior. Aqui ainda não tem muda, mas já tem raiz antiga indo embora.


Cada dia eu arranco um pedacinho de você. A laser. Na unha. É um show que toca a nossa música e eu consigo deixar passar. É um assunto que te lembra, mas eu esqueço de mencionar seu nome. É um seriado que você iria amar, mas eu indico pra outra pessoa e é com ela que eu comento os episódios. 


Devagar, mas vai. Vai, porque você foi. Vai, porque eu preciso ir, também. Vai ser difícil não porque o que é fácil não é bom - a gente era fácil e foi ótimo -, mas tem que ser devagar pra ser de uma vez. Pra quando chegar o dia do “eita! passou”, ter passado de verdade, e eu poder sorrir com a sinceridade que sorri quando percebi que te amava.


Só no aguardo pra quando o próximo você irá chegar.


Nina Lessa/2018.

quarta-feira, 10 de março de 2021

Feito em 2018

A gente sempre vai se magoar. Pelas expectativas que criamos, pelas desculpas esfarrapadas que ouvimos, pelo amanhã que não veio. Só não vale deixar essa mágoa crescer demais. Não regue: sofra na hora e respira, que uma hora ela vai embora.

A gente sempre vai sentir raiva. De quem foi babaca, da gente mesmo, que se envolveu quando não deveria, vai sentir raiva até sem motivo nenhum. E tudo bem. Sinta a raiva até que ela passe sozinha. E volta os olhos pro amor.
A gente vai precisar de um tempo. De alguns minutos, algumas horas, uns dias a mais. Talvez o tempo seja de alguns meses; talvez você precise de uns anos. Mas dê-se. Não atropele a necessidade de dentro, porque uma hora a conta chega, e aí volta tudo de novo. Tudo que era pra já ter passado.
Não dá pra ser feliz o tempo todo. Mas não dá pra estar triste, magoado ou raivoso toda hora, também. Tem que lembrar disso nas horas ruins, que elas não são eternas. E nas boas, lembre-se que não vão durar pra sempre - quem sabe assim você não aproveita melhor?
Nina Lessa/2018

Janeiro/2018.

Eu não sei como nem quando você deixou de querer estar comigo. Se tinha ou não amor, já não fazia a menor diferença. Voce não queria ficar. E me deixou ir embora, abriu a porta e me esperou sair. Deixou ela encostada, caso eu quisesse visitar de vez em quando, e eu entendi que de vez em quando não funciona quando a gente quer o sempre.
Eu não sei como nem quando percebi que a culpa não era minha. Era sua? Já não fazia a menor diferença. Quando um não quer, dois não ficam juntos. Você não queria mais aquilo, aquele estar comigo. Queria me perguntar por que, o que tem de errado, preciso perder quantos quilos, mas preferi me perguntar se eu queria alguém que não me queria.
Eu não sei como nem quando resolvi tentar me enganar. Fingir que dava pra matar saudades, depois cada um pro seu lado, até logo, bye-bye. Durou menos do que eu pensava que ia durar. Já não fazia a menor diferença matar saudade: eu tinha era que matar um sentimento que não era recíproco. Aí eu fui matar esse amor que já não era mais nosso.
Eu sei como e quando prometi pra mim mesma que o importante sou eu e tudo que vem junto comigo. O amor, a saudade, a vontade e a auto preservação. Já não fazia a menor diferença o que você ou qualquer um poderia achar. Quando um não quer, o outro não atende nem responde no WhatsApp. Que venha o ano novo, que me traga amor, de novo.
Nina Lessa

Janeiro/2018. 

Janeiro/2021

Sou completamente contra cirurgias, mas você eu removeria de dentro de mim. Sem dó nem piedade. Você teve dó ou piedade quando mentiu pra mim? Quando me manipulou o tanto que fez? Então eu removeria.

Eu abriria mão de todos os momentos que a gente viveu. De todos os que foram alguns dos melhores que já vivi. Por mim, tudo bem. Prefiro não ter vivido do que não conseguir esquecer mais. Prefiro arrancar na raiz.
Dor que vira aprendizado eu sei que passa, mas esse até lá é que mata. Mata fisicamente essa dor de saudade, essa dor de amor próprio em dia, autoestima tranquila, mas momentos de “que merda ter amado errado e tanto assim”.
Eu dispenso a lição, removendo você. Dispenso a carcaça mais forte daqui a uns anos, o coração calejado e a maturidade emocional que chegarão. Pode levar. Remove cada raspa de lembrança das fotos em que você não tá, mas a presença é vista no meu sorriso. Em cada mensagem que nem precisava ser apagada. Você era mais forte que qualquer coisa.
Então remove. Se for mais demorado com a anestesia, nem precisa. Eu trocava vacina de covid por um vazio em paz. Vazio de dor é soma de ausência. É vazio que já foi totalidade de presença, por todas as partes. Você existe onde nunca nem pisou.
Pode remover, doutor, leva tudo. Eu prefiro o nada e o nunca do
que ter tido e depois não mais.
Nina Lessa
Janeiro/2021.

Junho/2020

 Eu não sei te dizer o tamanho da raiva que você deixou em mim. Raiva de você, das suas mentiras e falsidades. Meu Deus, como você é falso! 

Que raiva das suas manipulações, me chamando de mentirosa. E eu, que não mentia e estava apaixonada, chamava sua falta de caráter de falta de confiança.

"Será que sou eu que passo essa desconfiança? Será que eu deveria ser menos eu?" inacreditavelmente eu dizia.. Como pude?

Que raiva de mim, que pude fazer isso comigo mesma. Que não consegui me afastar de você, mesmo com tantas chances.

Você me deu muitas oportunidades de ir embora, de nunca mais voltar.

Ser falso de obrigava a fazer um teatro de adeus, mas eu não era ameaça, né?

Uma pessoa honesta e apaixonada é prato cheio pra falta de autoestima, mas a minha falta foi autoestima se alimentando do meu amor próprio em dia.

Você sugou toda a minha autoconfiança. Então eu ficava.

Eu não sei te dizer o tamanho da minha mágoa. Ela só não supera o ódio que passei, então vencem minha coragem e força, quando a esperança acha que você vai aparecer, do nada, arrependido.

Minha dose de segurança me diz todo dia que você não pode se arrepender de algo que não conhece.

Você não sabe o que é amor, entrega, verdade. Se soube um dia, deixou nesse dia póstumo e seguiu sendo um fingido.

Eu não sei dizer o tamanho da minha raiva e não quero aprender.

Eu quero desaprender a sentir tudo isso que ainda está aqui e eu não sei como fazer pra ir embora.

Porque quando sobra amor, a gente sai distribuindo. Aos amigos, parentes, a quem quer ser amado - são tantos, os próximos.

Mas raiva? Não quero odiar mais ninguém. De você eu não quero nem distância, de você eu não queria ter mais nada. Esbarrar na rua e não ter conhecido.

Mas não posso. Então que seus olhos falsos não me deixem esquecer o que passei, pra nunca mais chegar perto.

Eu não sei dizer o tamanho da raiva que ainda sinto, mas sei dizer o tamanho do amor: nenhum.

Nina Lessa

Junho/2020