quinta-feira, 27 de março de 2014

Amigo que é amigo

Amigo que é amigo

Amigo que é amigo vai detestar um monte de coisa que você adora, mas vai aturar porque você é a única companhia. E você não vai achar que é a última opção por causa disso - assim como vai encher o saco dele sempre que puder alfinetar que aquilo é uma roubada. Mas vai de novo quando ele te chamar, porque amigo é isso.

Porque tem dia que o perrengue é você quem propõe, e amigo que é amigo vai mesmo assim, mesmo detestando lugar, pessoas, situação. Amigo de verdade quer muito ir numa festa, mas se o seu ex estiver lá, ele vai embora contigo numa boa - ou vai ser o primeiro a arrumar alguém pra você beijar na frente daquela imbecil. Amigo é pra isso.

Pra morrer de preocupação se você ficar doente, te visitar no hospital e comer um sanduíche que você não pode só pra te sacanear. E você vai ficar puto e avisar que vai comer pra cacete quando sair daquela cama, e vocês vão beber muito depois. E vão mesmo. Amigo é aquele que te ama, e por isso mesmo não vai estar ali pra fazer as perguntas chatas que a sua mãe faz. Só às vezes.

Amigo que é amigo fica feliz quando você finalmente namora alguém legal - e quando você finalmente termina com aquela piranha que com certeza te traía. Amigo te critica quando vê que você tá fazendo merda e joga na cara quando dá tudo errado. Ele faz isso porque gosta de você, e amigo de verdade depois pede desculpa porque todo mundo é otário quando tá apaixonado, né? Então tudo bem.

Amigo que é amigo ri da gente e com a gente; amigo de verdade chora junto e por nossa causa, por justa causa. Amigo tem história pra contar e pra escrever, não importa quanto tempo se conhecem - às vezes a gente precisa reconhecer as pessoas que sempre estiveram perto, mas só agora chegaram mais pro nosso lado. Amigo muda com a gente ou não muda nunca, e isso até pode ser bom.

Porque amigo que é amigo pode casar, se mudar, ter filho e ter neto. Amigo é amigo e pronto. É diferente. É uma coisa de duas pessoas, um elo que só comporta duas pontas. Agrega um monte, monta mesa de gente conversando, cabe todo mundo na foto. Mas a amizade de dois é coisa única. É olhar, é uma palavra, é só uma lembrança e pronto, já ri sem precisar de muito. Ou chora.

Amigo que é amigo faz merda e a gente perdoa, mas só perdoa porque é amigo. Se for um colega, a cagada parece que é muito maior - assim como a mágoa triplica quando é o amigo que nos fere. Faz parte. Mas amizade perdoa, esquece, passa por cima. É tão linda e pouco egoísta que às vezes eu penso por que os namoros e casamentos são tão pouco assim. A linha de um amor pro outro é tênue.

(E aí você vai acabar esse texto e perceber quantas pessoas são suas amigas e você não reconhecia. E quantas pessoas não são, e talvez você esteja muito tempo valorizando demais.)

Nina Lessa

sexta-feira, 14 de março de 2014

Eu não quero mais saber

Eu não quero mais saber
Como você anda
Se engordou ou voltou a malhar
Eu não quero mais saber
Se você ainda me ama
Ou se já deixou de me amar

Eu não quero mais saber
De você
Porque sei
Que você não quer saber de mim
E se quiser
E se perguntar
Vou dizer que tô bem, sim

Não quero saber de você
Não mais
A ideia é te deixar pra trás
Já que você foi
E não quis ficar
Não tenho remorso algum
De te jogar no meu 'jamais'

Eu não quero mais saber
De você
Só quero distância
Quem espera não alcança
E eu não quero mais
Nem sua remota presença
Nem tenta.

Não quero mais
Saber
Não quero mais
Te ler
Não quero mais 
Esbarrar,
Fingir que não, mas esperar
Não quero mais
Você.

Nina Lessa.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Um poço de mentiras

Ser traído não é fácil. Não tem amor próprio que resista a remota vontade de não querer ir embora. A gente quer tentar ficar, quer tentar saber por que, quer entender onde foi que perdemos o até então amor da nossa vida pra outra pessoa.

Não queremos e nem vamos entender com facilidade ou rapidez que não adianta: não há o que tentar. Não tem por que, não perdemos nada. Mas não adianta. A gente queria que o tempo voltasse é que tudo não passasse de um pesadelo.

Ser traído não é fácil e dói fisicamente. A gente vai rever a cena que viu, que nos contaram ou aquela que imaginamos umas 5.783 vezes. Ou mais. A gente vai culpar o nosso amor, a parte de lá e vai achar que merecemos. Quem é a vítima?

A gente tem ódio e quer matar todo mundo. Ela, ele, os amigos que não entendem, os pais, bando de idiota. Achamos que quando acontece com nós mesmos, é diferente. Que dessa vez as coisas não são bem assim. Que esses conselhos estão todos errados.

Onde a gente se inscreve pro tempo passar mais rápido? A gente pode pedir um tempo pro mundo parar, só pra gente se recuperar? Não. Quem dera. Mas a gente pode ter uma corda pra tirar a gente do fundo do poço. É quando ele chega.

Nosso amor próprio chega pra contar que não dá mais. Que dói, mas que vai passar. Que a gente acha que quer voltar, mas um dia vai agradecer a ele, ao amor próprio, por não ter voltado. Ele joga na nossa cara que é isso: faz parte. É a vida.

Mas não vai ser logo, não vai ser fácil e a vodka só vai ajudar se não tiver telefone por perto. Não vai ter nada que resolva sozinho, mas somando com o tempo, uma hora passa. A dor no ego, no coração e na nossa auto estima, que jogaram no lixo.

E quando passar, a gente vai conseguir perdoar mais do que as pessoas; vai perdoar as atitudes, vai perdoar a falta delas e de palavras; vai perdoar o que foi dito e que não deveria. Quando passar, a gente vai perdoar a gente mesmo por achar ter sido culpado.

Filho da puta é quem não dorme de consciência tranquila.

Por Nina Lessa.