segunda-feira, 30 de maio de 2011

Como Mágica

A dupla de funk (que hoje não existe mais, porque um deles faleceu) Naldo e Lula canta uma das minhas músicas preferidas: "Como Mágica". Gosto dela desde a primeira vez que ouvi, e por muito tempo ela me lembrava um alguém que passou pela minha vida. No começo (como quase tudo), isso era muito bom. Mas depois (geralmente, como tudo, quando acaba) virou uma tarefa impossível, ouvir a música sem chorar. Mas as coisas passam, e depois era somente impossível não lembrar. Num depois mais adiante, já não havia lembrança, somente o gostar da música.

Nunca pensei que isso fosse me acontecer: superar totalmente. Sempre achei que nada nessa vida poderia ser totalmente superado, mas hoje acredito que a gente confunde (e muito) 'superação' com 'esquecimento'. E realmente, esquecer é insano, não à toa é uma doença. A gente é feito de lembranças, senão como contar história? Aprender, amadurecer, ser alguém na vida? A gente não é ninguém sem memória, sem lembrança. E hoje aprendi que superação não só é possível como necessária, porque senão a coisa não anda. A coisa: sua vida. Seus dias. Você.

Hoje, ouço "Como Mágica" sem qualquer pensamento (ridículo ou não) de lembrança, de saudade. É uma música, eu gosto, e pronto. Simples, gostoso (eu realmente gosto muito dessa música, já falei isso?), necessário. Quem não gosta de alguma coisa que melhora o dia, o humor, uma situação tensa? Eu adoro, e às vezes, preciso. Hoje eu consigo explicar com palavras que nunca encontrei antes o quanto me faz forte (e feliz) reconhecer esse tipo de superação. Dá uma satisfação que essas palavras não mensuram, é verdade, mas explicam, e talvez eu me faça entender.

É bom não sentir a necessidade de provar nada pra ninguém. 'Deixem que pensem e que falem' sempre foi meu lema, mas confesso que tropecei muito nesse período chamado vida, e uma ou outra vez deixei de agir pelo medo do julgamento alheio. Hoje, resolvi procurar no dicionário, e olha, é muito sem sentido deixar que alguém 'distante, afastado, estranho' tenha qualquer posição importante na nossa vida. Preocupo-me, sim, com o que as pessoas queridas pensam de mim, mas elas são elas, e eu passei por muita coisa pra fazer tudo que faço. Demorei muito pra ouvir "Como Mágica" e gostar do vazio que fica. Então é direito meu, e somente meu, aproveitar todas as gotas que nunca pensei existir num vácuo.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Eu, Eu Mesmo e... Eu.

O egoísmo é sempre tido como algo ruim, mas confesso que nunca pensei nele desta forma. Achava que pensar em si mesmo era sempre melhor do que ser constantemente passado para trás por pessoas que você ajuda, por quem você torce e abre mão de tanto. Acreditava que ser egoísta nada mais era do que ter amor-próprio, e saber se colocar primeiro na própria vida, cuidar, antes de tudo, dos próprios interesses, para só então se dedicar à vida (ou à parte desta) de uma outra pessoa. Hoje, talvez não pense mais assim.


Não que eu tenha mudado de ideia, ainda acho que tudo isso é válido e sim, é preciso amar-se antes de tudo, satisfazer-se, correr atrás dos próprios sonhos e não deixar objetivos pelo meio do caminho, só porque pessoas-obstáculos lhe tiraram o foco. Mas também acho que egoísmo não é isso; isso é ser. Simplesmente ser. Ser você mesmo, respeitar-se, e finalmente conseguir aquela coisa tão batida, e tão concorrida desde sempre: conseguir ser feliz.


O egoísmo vai além. Ele te impede de perceber que o mundo não gira em torno de você mesmo; que as coisas não conspiram nem contra, nem a favor, independente de crenças, destino ou algo que o valha. O egoísta não entende abrir mão sem manter a outra fechada; ele não confia sem desconfiar, nem pensa em fazer o bem já visualizando a troca do favor. Uma pessoa com este sentimento está na vida de todos, a qualquer hora e tempo. Todo ser humano tem essa pontinha, esse câncer dentro de si.


A busca pela perfeição é insana, e também sempre confundida com a busca pela felicidade, quando na verdade é o oposto desta. Aqui não interessam as almas, santidades, nada. Falemos de humanos, e entendamos que ser egoísta não é amar a si mesmo mais do que a todas as coisas. Porém, é preciso entender que amar a si mesmo está longe de amar menos quaisquer segundos ou terceiros. É saber que amar não anula, só soma, e no máximo divide uma ou outra felicidade. Ou todas, se você tiver sorte.


‎"Me movo para longe de quem não vê nada além de si."



quinta-feira, 19 de maio de 2011

Cansaço

Tem hora que a gente cansa
Parece que a coisa não anda
Simplesmente não vai
Nem volta, não vence
Não tem nem derrota
Simplesmente pára

Tem hora que não tem o que dizer
Ou fazer, tentar
Tem hora que simplesmente não dá
Você não sabe o que dizer
Ou como dizer, se algo há
Você cala, deixa pra lá

Tem hora que a gente assiste
Sentado mesmo
Cansado de ficar em pé
Como quem assiste um filme
Que já viu e sabe como é
Pega a pipoca e espera
Sabe, né?

Então.

Tem hora que o cansaço chega
E você pode ser novo
A história pode ser nova
Mas qualquer repetição
Não importa em que situação
Te dá um aspecto cansado
Típico de passado

Cansa.

E é preciso motivação,
Se quiser começar de novo
Mas e vontade? E gosto?
Pra levantar e buscar gás
Pra querer de novo, e querer mais
Você perdeu
Sem nem saber onde.


Cansaço é o que fica,
Quando você está lá... longe.

sábado, 14 de maio de 2011

Cheiro

Não conheço perfume, não sei os nomes nem dos que eu uso. Não sei identificar marca, coleção, números, nada. Perfume eu (re)conheço pelo cheiro. Não sei dizer se é doce, amargo - nem sei como se diz essas coisas. Sinto o cheiro e é como se estivesse com ela, em algum tempo atrás, mesmo ontem ou hoje mais cedo. O cheiro traz as pessoas pro lado, quase tão rápido quanto o pensamento; quase como a saudade.


Tem cheiro que traz saudade. Não precisa ser de certa comida ou restaurante, mas quando é, você lembra de um local ou data, não é verdade? Não precisa ser cheiro de limpeza, de madeira, de tinta ou qualquer cheiro forte. Não importa, por mais que você não identifique "cheiro do que", é simplesmente um cheiro que você já conhece, e por algum motivo (e que seja ele bom), te faz lembrar de coisas que já viveu. Nem que tragam memórias ruins - na pior das hipóteses, menos mal que essas lembranças, agora, são só o passado.


O cheiro consegue seduzir e afastar com a facilidade de uma atração física, de um sorriso irresistível ou de uma gentileza inesperada, depende do que te encantar primeiro. Cheiro fica no lugar quando você se vai, e às vezes vai junto com o dono, nem sempre correspondendo às nossas vontades. Cheiro tortura por fora através do olfato, quando a saudade já nos torturou todos os sentidos por dentro. O cheiro fica no travesseiro, no pijama que não foi lavado, na camisa esquecida. A memória um dia se vai, mas o cheiro... Depende do fixador.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Branco

A gente aprende na aula de artes que o branco é a união de todas as cores, mas é na de português que essa cor se destaca mais na vida de adulto: o branco nosso de alguns dias, quando a cabeça parece que apaga as ideias e não se sabe bem o que dizer, ou fazer - ou não. O branco com o qual a gente mais convive é a indecisão na hora de fazer escolhas, com aquele medo incrontroável de se arrepender antes mesmo de acabar de falar. E espero estar enganada, mas me parece que esse medo não acaba nunca...

O branco que dá na mente é o mesmo que segura as palavras na garganta, que trava na hora certa de dizer alguma coisa. Uma vez já nos contaram que o silêncio nunca pode ser pior do que a coisa mais errada do mundo que se poderia dizer, mas, sinceramente, cada dia mais eu acredito que não. Assim como também acho que falamos demais, em muitas vezes, ainda acredito que calar me dá a impressão de pouca (ou nenhuma) importância, enquanto as palavras, quaisquer que sejam, me soam como ao menos tentativas.

Às vezes, o branco que dá parte de fora: a gente sabe como as ideias funcionam do lado de dentro, a união de cores entrou em harmonia, mas o medo de errar no tom quase sempre vence a coragem da certeza interna. Para quem observa, 'eles que são brancos que se entendam', mas o que ninguém entende é que essa cor, na verdade são essas cores, são muitas, infinitas, e como as cores, como a união e combinação delas, são infinitas as possibilidades. O que é bom... Não?

A gente nunca tem como saber. O tom que foi usado aqui, de repente pode não funcionar tão bem logo ao lado, e haja razões para isso: a luz, a textura, os móveis, as outras cores. Resolve-se isso testando, até conseguir acertar. Uma hora isso acontece, a gente sabe, mas será que depois de tantas tentativas, tantas possibilidades tentadas (e erradas), a união de cores parecerá branca de virgem, de começo, de vazio ou será o branco que une todas as cores?

Meu branco é de vazio - que a partir daí vai unir todas as cores. E coisas.

terça-feira, 3 de maio de 2011

O nó quando é cego, aperta. Aperta no peito aquela dor que parece querer sair voando, mas que o nó, cego, prende. O mesmo nó que fica na cabeça de quem não tem certeza de nada e ganha mais dúvidas. Um nó imenso de ideias que não levam a lugar nenhum; nó que só o talvez é capaz de deixar na mente de quem tem medo de cair de novo, de esquecer como se levanta depois do fundo do poço. O nó na barriga de nervoso, que pode ser ansiedade, medo, insegurança, ou muito provavelmente tudo isso junto.

O nó que a vida vai dando quando os caminhos são construídos: os nós vão sendo feitos e desfeitos com as histórias que se cruzam e se machucam. Nó machuca, se você não souber ficar na posição certa, na hora certa. O nó aperta até arrebentar; e quando dá na garganta, ele aperta até a gente conseguir engolir? Um nó pode remeter a uma bagunça que foi deixada, ou arrematar um embrulho arrumado - tudo depende do nó que se formou. Ou que você mesmo deu.

O nó, quando no plural, remete a mais de um - que a gente sempre pensa em dois. Talvez porque 'nós' sempre escondem nó(s) de todas as espécies já descritas nesse texto, que você provavelmente sentiu como se estivesse (re)vivendo, tudo de novo, remexendo em todas as coisas que (não) passaram e, nossa, as coisas não mudam, os nós não se desatam, não importa em quantas pessoas fofoqueiras você estiver pensando, como sua avó ensinou na hora de desatar.

Tem nó que não se desata, não afrouxa. Tem nó que só o nó sabe (des) fazer. Ou nós também?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Nem ser, nem não ser

Eis a questão: ninguém quer resolver questão nenhuma. Que empurrar com a barriga virou "tendência", ninguém nega, e isso não é de hoje. Enrolar é verbo primo do ser humano, quase irmão do brasileiro, gêmeo siamês do carioca (e se de mais alguma região deste Brasil, favor me comunicar...). Assumir qualquer coisa hoje em dia é coisa rara, e como freelancer ao invés de emprego, ter "rolo", "ficante" ou qualquer coisa que não remeta namoro é mania nacional, parece que não tem jeito.

Concordo com todos os gêneros, números e graus possíveis que sim, namorar é algo complicado por si só. Ter um relacionamento demanda milhões de coisas que não vêm ao caso deste texto, porque a questão aqui é outra: a dificuldade começa antes de namorar. Bem antes. A questão é tão simples quanto complicada, e a verdade é que confiar anda cada vez mais difícil. As pessoas reclamam que não dá para acreditar em ninguém, e isso nada mais é do que reflexo - você confiaria em você?

Eu acredito nas pessoas, mas talvez porque já quebrei minha própria confiança. Quando a gente não confia nem na gente mesmo, como confiar nos outros? Já confiei em mim, quebrei esse acordo comigo mesma, mas acabei conseguindo acreditar em mim de novo. Mudar não só é possível como dá uma esperança de mundo melhor, dentro da gente. Mas só muda quem quer, e aí o passo é de cágado.

Aprendi que saber o que quer tem um peso enorme, e maior do que saber o que não se quer, até porque muitas vezes levamos à negação uma série de coisas (e pessoas) que nem conhecemos, tudo porque não demos sequer uma oportunidade. É preciso abrir os braços e dizer 'ok, vamos ver qual é'. Medo de perder, de se magoar, de sofrer? Esquece isso. Ninguém morre dessas coisas - e se morrer, melhor que seja por ter tentado ser feliz.