quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Malditas mudanças

Eu achava que a gente parava de mudar quando terminava a adolescência. Sempre acreditei que, depois dessa fase, era tudo uma questão de amadurecimento. Lia crônicas e livros sobre relacionamentos, todos dizendo que 'devemos acompanhar a mudança do companheiro', mas nunca acreditei realmente nisso. O pensamento era simples: 'a pessoa é a mesma, o problema é que a gente tende a não ver, ou a fingir que não vê'. Mas estou começando a discordar de mim.

Tenho jeitos, manias, pensamentos e convicções que me acompanham desde sempre, mas e todas as milhares que eu fui deixando no caminho? A gente não pára pra pensar nelas porque a rapidez com que a maioria vai sendo substituída com o passar dos anos não deixa. E sabe quando notamos com mais clareza? Em fotos. Em vídeos. Em diários que lemos anos depois de escrevê-los. A gente se vê, se lê, e simplesmente não consegue acreditar no quanto mudamos, de 2 anos pra cá, tão pouco tempo.

A vida vai colocando uma série de pedras, situações, galhos, problemas e soluções no nosso caminho, e são eles que fazem a gente tomar decisões, fazer escolhas. Antes delas acontecerem, éramos um. Depois dela, podemos ser até dez. O lado positivo é inegável: aprendemos a ser mais fortes, a enfrentar coisas que nunca pensamos. Ficamos orgulhosos de nós mesmos. Mas e quando quem muda é a pessoa que está do nosso lado, há tantos anos, a quem pensamos conhecer tão bem? Aí a coisa muda de figura...

É realmente doloroso quando o amor de uma pessoa por você acaba, e você não percebe. E você se culpa, afinal como isso aconteceu, onde é que você estava que não viu, que sempre conheceu tão bem o amor da sua vida? As circustâncias, histórias e razões jamais caberiam aqui, assim como explicação nenhuma justifica ou faz passar a dor da separação, da ausência de amor, verdadeiro oposto do sentimento maior. O que não podemos fazer é negar os fatos, por mais que doa (e demore) admiti-los.

Não há como medir dor, ou o tempo de luto enquanto ela não se vai. Se um dia o sentimento será somente nostálgico? O dia que eu passar por isso, prometo que conto. O que vale é entender que mudanças acontecem, e achar que não, é mentir com a cara mais lavada do mundo pra você mesmo. Renato Russo não errou, essa é, sim, a pior mentira. Mudança acontece, e a culpa não é de ninguém; ela só acontece e pronto. Dói quando a gente quer explicação e não acha, né?

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Um ano melhor

Todo ano desejo às pessoas que o ano seguinte seja melhor que o anterior. Acho que comecei a fazer isso quando considerei meu ano uma grande bosta. Hoje, parando para avaliar o motivo dessa raiva, encontrei a decepção. Taí algo pelo que ninguém gosta de passar, mas invariavelmente acontece quando a gente ama, gosta, tem respeito, confia, é feliz. E aí, vai deixar tudo isso pela certeza de uma segurança esquisita?

Confesso que, assim que nos decepcionamos, a vontade de explodir de ódio é tão grande que a impressão que dá é que explodimos, só que ninguém viu. A gente sente raiva do responsável pela decepção, mesmo só percebendo bem depois que o grande dono dessa sensação de 'nada' é a gente mesmo. E sentir raiva de nós mesmos é o fim: como fugir da nossa própria companhia? Então a gente se cerca de não-nós mesmos.

Saímos por aí beijando bocas, mantendo relações com tudo que nos ajuda a fugir de nós mesmos. Pessoas vazias (de fato, ou que somente nos soe assim), garrafas cheias, lugares lotados de superficialidades - o mundo está cheio disso. Por um tempo, isso realmente funciona. Não vejo problema em querer fugir certos momentos, mas sempre chega a hora da verdade cansar de bater na porta - e ela arromba.

A gente encara o fato de que esperar demais é uma grande idiotice, mas que todo mundo acaba fazendo, um dia. A gente sabe que perfeição é a maior das mentiras, mas acaba acreditando nela, alguns dias. E a gente tem duas escolhas: ou faz disso uma razão pra desejar um ano melhor na noite do dia 31 de dezembro ou aceita que isso faz parte e faz de cada uma dessas imbecilidades mais um aprendizado. Não pra nunca mais errar, mas pra rir de tudo isso antes, da próxima vez.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Comemoração Solitária

Sempre que pensava em formatura, o que me vinha à mente eram duas coisas: a colação de grau e o baile. Em uma, era o momento de agradecer aos pais (ou sejá quem fosse o responsável) pela ajuda principalmente financeira durante a faculdade. Mensalidade (no caso de universidades pagas), materiais, ajuda de custo, literalmente bancar o sonho dos filhos. Na festa, família e amigos escolhidos a dedo para compartilhar essa alegria com o formando.


Quando meus companheiros de jornalismo foram se formando, desistindo ou ficando pra trás, abri mão do baile. Pagar demais para estar somente com as pessoas com quem estou toda semana, todo dia ou algo parecido não fazia sentido. Pensando na colação de grau, comecei a pesar quem eu gostaria que estivesse na platéia, e por que motivos. Cheguei à conclusão que não fiz questão de rosto quase nenhum.


Achava que queria ouvir gritos quando chamassem meu nome, mas depois pensei melhor e vi que não faz sentido grito algum. Claro que em outras áreas, cursos, faculdades ou para outras pessoas as coisas podem ser diferentes, mas na MINHA faculdade, no MEU curso, na MINHA história de vida, sair da faculdade depois de fazer uma monografia é um mérito meu, e somente meu, pessoal e profissional.


Sei que existem pessoas felizes por mim, mas ninguém traz esse mesmo sentimento no peito. Sei que alguns querem comemorar esse fim de etapa, mas nenhum pelos motivos que eu; ninguém sabe exatamente o que eu passei e não tem palavras que traduzam, como explicar o amor ou a emoção de vencer alguma coisa, ou a frustração da perda. Acho que por isso comemoro sozinha, dentro de mim.


Parece triste, mas me abraçar é algo que eu preciso, quando tudo isso acabar. Só eu sei quanto preciso desse alívio.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Torcer

São poucos os torcedores que reconheço como tais. Acho que, por ser uma torcedora assídua e apaixonada, não tenho muito saco pra quem se diz 'torcedor doente' (de qualquer time) só quando o time está bem no campeonato, ou só quando o adversário vai mal. Aos que não costumam me sacanear nas horas ruins, parabenizam nas horas boas e acompanham seus times, meu respeito total, sempre. Quanto ao resto, nem me venha com churumelas.

Tenho 24 anos e não, nunca vi meu time ser campeão. Por que me irrita quem diz 'finalmente, hein', 'agora só depois de 26 anos' etc? Porque 97% desses não é um torcedor como eu, ou nem entende muito de futebol (ou pelo menos não me demonstra), e por isso não sabe o sentimento que fica no peito quando um torcedor DE VERDADE passa pelo momento que eu passei antes de ontem, domingo, dia 5 de dezembro de 2010. Só por isso.

Sempre fui conhecida por duas coisas: o nome diferente e meu time. Morei fora do país e minha camisa tricolor foi comigo. As pessoas não sabiam que eu era do Rio, que tinha só 18 anos, que sei lá, meu sobrenome era Lessa. Mas sabia que eu era Tricolor. Viajo pelo país, e a camisa do Flu vai junto. Acompanho os jogos da maneira que posso: ao vivo, pela TV, trabalhando nos estádios, em estúdio, pelo celular. Eu sou tricolor e todo mundo sabe disso.

Foi através das dezenas de ligações e mensagens que venho recebendo desde domingo que parei de discutir pelas provocações alheias. No fundo, as pessoas sabem que eu sou torcedora como poucos de maneira geral, e como raríssimas mulheres que se jogam de cabeça quando o assunto é futebol. Adoro o esporte, trabalho com ele, mas domingo descobri que, antes de tudo, eu sou uma torcedora. E chorei, fiquei nervosa durante semanas, não dormi.

Claro que alguns (poucos) flamenguistas, palmeirenses, corintianos, vascaínos e sei lá, até botafoguenses sabem como é esse sentimento de realização, como se quem tivesse em campo fôssemos nós. Mas só quem é tricolor sabe o que é amar um argentino como se brasileiro fosse, sabe o que é pegar trem ou enfrentar o caos da distância pra sentir ao vivo o que ficou faltando na Libertadores de 2008. Só quem é TRICOLOR, que me desculpem os outros times.

Mas hoje, e até pelo menos o ano que vem, essa alegria do coração ninguém me tira.