quinta-feira, 30 de agosto de 2012

De você

Eu doei quase todos os presentes que você me deu. Alguns resolvi jogar fora; só fiquei com o que uso mais do que passo de tempo pensando em você. Contei pra mim mesma que aquilo não combina comigo sem você - hoje eu sou outra pessoa. Agora eu não como demais, não bebo demais e dirijo meu carro. Ainda guardo fotos e cartas, nem joguei fora seus recados no meu caderno, mesmo já formada da faculdade. Mas eu chego lá.

Me desfiz de pequenas grandes coisas como meu porta MP3 que você usava. Ainda bem que já tinha quebrado. Não uso mais a metade do meu armário que aparece nas nossas fotos juntos. Tá, deve ser porque emagreci, mas deve ser também porque eu acabava me arrumando pra você, que não iria ver, e isso não me importava. Ainda me pego te agradando sem querer, mas isso vai passar.

Parei de assistir programas e canais que nos vinculam. Aliás eu parei de ver TV. Você estava tão acoplado a mim assim ou fui eu que me transformei e virei alguém só seu? Na dúvida, eu mudei. Dessa aqui você talvez nem goste, não sei - acabou que não fiz o teste. Mas mudei de restaurantes e cinemas; mudei de marcas e manias; mudei até de amigos. Ainda é por você, mas um dia não vai ser mais.

Eu não uso mais aquela cadeira de praia. Doei detalhes que você cultivava em mim e eu não tinha percebido. Larguei gírias suas e discursos que peguei emprestado. Tem sido uma luta. Tá demorando mais do que eu pensava, mas sei que uma hora passa e que é culpa minha, que alonguei demais um processo que já estava meio caminho andado. É por isso que guardei a coberta que você me deu. Hoje, eu não vou dormir com você.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Quem não gosta?

Quem não gosta
De poder mandar "bom dia"
E de ser logo respondida?
Quem não gosta
De ter pra quem contar a novidade?
De ter quem mande mensagem?
Quem não gosta
De ver a bateria do telefone acabando rápido?
Quem não gosta
De ter um destinatário?
Quem não gosta
De criar expectativas
Por menor que sejam
Por menos esperanças que possuam
Quem não gosta
De escrever textos, e que leiam?
Quem não gosta
De ter um ouvido, um ombro, um carinho?
Quem não gosta
De só ter, ali, esperando?
Quem não gosta
De não estar, mas só pensar
Que tá namorando?


Quem não gosta?

Nina Lessa

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Onde você está

Não é mais na esperança de esbarrar na boate. Já não acho que vamos frequentar os mesmos locais por concidência. Não acredito que será no mesmo dia que vamos resolver pegar um cinema naquele shopping, onde nenhum dos dois mora perto. Não vamos nos esbarrar no trânsito nem por acaso no metrô; já não temos mais situações quase inevitáveis. Os dois já se acostumaram a saber onde o outro está, e coincidência ou não, evita.

Não é em nada disso que você vai estar. É na hora do café na copa, pegando um biscoito, que eu vou lembrar de como a gente ria junto. É tomando banho depois do trabalho que me vem o nome do seu koni preferido. Vai ser voltando de uma night divertidíssima, dirigindo sozinha no carro, que a sensação de frustação vai me bombardear, assim mesmo, sem aviso prévio ou motivo aparente. É sendo feliz sem você.

Porque você está onde não tem amor, mas ainda tem saudade. Não tem mais mágoa, mas restou certa raiva. Você vai estar não mais nos presentes que me deu, mas naqueles espirros que vêm no meio da tarde, quando bocejo. Você está onde não deveria, já que é presença sem corpo nem alma. É nesse meio do caminho, que não sei quando acaba. É nesse tempo confuso de "ainda não tem ninguém, mas também, não tenho você.

Mesmo sendo só um pouco, você dá umas pontadas de onde está: aqui dentro.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Como é que pode?

Eu sinto seu cheiro entre as minhas coisas, mesmo você estando longe daqui há tanto tempo. Como é que pode? Ouço sua voz falando coisas que você diria, se estivesse aqui, fazendo observações pertinentes às suas opiniões. Como é que pode, eu já imaginar como se você não existisse mais pra mim? É como se eu te conhecesse, não te conhecendo mais. Acho que não mais, então como é que pode?

Eu sei que a gente não dá mais certo e sei que tenho paz longe de você. Como é que pode, então, eu ainda querer de novo, só mais uma vez? Entendo os problemas e aceito que não temos solução. Como é que pode eu querer estar por perto e te manter ao meu alcance? Como é que eu ainda não consigo cortar essas raízes, depois de tanto tempo - e de tanta gente? Eu sei que acabou, mas não sei, sabe como é que pode?

Eu me empenho em te esquecer e vivo buscando outros focos e objetivos. Como é que pode eu atender correndo, quando você volta? Prometo pra mim mesma que vou mudar, mas é só você aparecer e pronto: esqueço das promessas e verdades, me alimentando de qualquer coisa que você diga. Como pode essa confusão de certezas? Não deveria poder. Você não deveria poder nada. Como pode, então?

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Pode ser


Pode ser 
Que eu tenha me enganado
Tudo bem
Nunca prometi nada
Nunca dei minha palavra
De que sabia mais do que alguém
Então pode ser
Que nada disso seja certo
Que todos os meus discursos
Sejam politicamente incorretos
Tudo bem
Não faço questão que concordem
Nem que me bajulem, também

Pode ser passado
Tudo isso que ainda chamo de amor
Tudo bem
Sei que existem chances
De você não ter me amado
Ou de nem ter um retrato
Guardado
Pode ser que tenha jogado
No lixo quando fez a mudança
Tudo bem
Não guardo esperanças
Nem de você, nem de ninguém

Pode ser
Que você não me leia
Já que não me liga
Tudo bem
Não espero mais nada de você
Nem notícias
Mas pode ser 
Que você ainda pense, ainda cogite
Que se você pedir, eu fique
Tudo bem
Porque eu ainda rezo, ainda peço
E se você voltar... amém.

domingo, 12 de agosto de 2012

Eu não sei

Eu não sei se ainda consigo
Se ainda sei de fato
Te fazer feliz de novo
Como fiz no passado
Você me deixa tentar
Só mais um pouco?


Eu não sei se ainda consigo 
Te fazer rir 
Daqueles mesmos motivos
Que nos divertiam
Será que éramos mesmo tão bobos?


Eu não sei se ainda consigo 
Te fazer acreditar
No amor que ficou aqui
Mesmo sem você voltar
Mesmo sem você notar


Eu não sei se ainda consigo
Recomeçar do zero
Sem você aqui perto
Sem você aqui comigo
Será que ainda te preciso?


Eu não sei se ainda consigo
Depois de tudo
Te querer como amigo
Não sei não te ter posse
Não sei manter essa tal pose


Eu não sei se ainda consigo
Me apaixonar de novo
Pode ser muito cedo
Pode ser que ainda seja pouco
Pode ser que haja medo
De doer tudo de novo


Eu não sei se ainda consigo
Pode ser que eu quebre a cara
E pode não ser nada
Mas pode ser, veja bem 
Que você me ame  também.

Nina Lessa

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Poesia

É frustrante
Como me decepciona
Não ter conseguido
Nos levar adiante
Ter deixado desse jeito
Tão além da conta

Não consegui te fazer ficar
Nem você quis, também
Comecei a não te amar
Nos perdemos
E ainda assim fomos além

Não tem mais ida, nem vinda
A gente não se faz mais feliz
Não tem mais amor
Nem mais raiva
A gente não é mais nada
Por isso só resta esse fim.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Amores Platônicos

Não acredito em amores platônicos
Não pode ser amor, se não existe reciprocidade
Ninguém pode ser feliz de verdade
Amando um alguém que não liga
Que não faz a menor questão
De saber da sua vida
Se você vai bem, ou não


Não acredito em amores platônicos
Como é que é amor se é só ida,
Se é caminho que não tem volta?
Amor sem recíproca é só ferida
Não tem batalha com uma só vitória
E nem de guerra se pode chamar
É por si só derrota


Não acredito em amores platônicos
E nunca vou acreditar
Em falta de amor ao próximo
Em falta de amor-próprio
Em falta de vontade de amar
Que me desculpem os poetas
Que se dizem amantes sozinhos

Mas eu não acredito em amores platônicos
Ao menos os que perduram
Podem começar, claro, eles sempre começam
Só que sem forças, não duram
Não alimentem a fera, esse amor sem direção
Pra que os sentimentos não cresçam
E vocês acabem culpando o (coitado) coração.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Não sou eu

Eu não sou a mulher perfeita pra você. Não sou aquela nora que adora cozinhar e vai aprender as receitas com a sua mãe. Por mais louças que eu ajude a lavar, no máximo vou elogiar a lasanha, e dizer que jamais aprenderei a fazer uma igual. Sou do tipo que vai comentar futebol, e não a novela. Sei falar de livros, não da Caras. Não sou como quase todas as mulheres.

Sou do tipo que não vai ser muito amiga das suas amigas, mas vai ser parceira dos seus melhores amigos de infância. Vou beber com eles até cairmos todos e dispenso a caipirinha pra ficar só na cerveja. Não vou reclamar que você está bebendo demais porque provavelmente eu vou beber mais do que você. Não sou menininha, nunca fui e já desisti de tentar mudar.

Não sou mulher que demora pra se arrumar e é capaz de você ter mais frescuras do que eu. Topo praticamente qualquer ideia, evento ou plano, desde que você consiga me incluir do seu lado. Sou do tipo que adora quase tudo e quase todos, até que pisem no meu calo. Mas minha raiva passa logo, é só não deixar virar mágoa. E não, eu não vou implicar com o seu futebol.

Porque eu não sou a mulher perfeita pra você. Tenho mais amigos do que amigas, e todas elas são quase meninos, também. Não sou melosa, romântica nem vou inventar apelidos ridículos pra te chamar na frente dos outros, mas pode ser que eu te sacaneie se conhecer alguma ex sua mais feia do que eu. Porque esse é meu jeito, não dá pra fugir. Você quer, mesmo assim?

Não é você - sou eu


Não é você, sou eu. Não foi você que errou em não acreditar em mim. O problema é todo meu, que não te passo confiança com esse meu jeito extrovertido e sempre sem maldade com as pessoas. Fui eu que não consegui te convencer do quanto te amava durante o tempo todo que estivemos juntos, nem sei como achei que conseguiria te fazer entender todo esse amor, agora. Não é você que precisa ter mais autoconfiança e ser menos preconceituoso - sou eu que preciso me aceitar como sou, mesmo você não aceitando.

Não é você, sou eu. Não é você que precisa me contar do seu dia e dos seus planos; não é isso que se espera de uma pessoa com quem nos relacionamos nos dias de hoje, não é? Eu é que exijo demais quando pergunto dos seus pensamentos e opiniões, que me preocupo sem necessidade quando quero saber se chegou bem em casa ou dormiu direito à noite. Sou eu que demando mais atenção e carinho do que o normal, mesmo você dizendo que sou menos atenciosa do que deveria. Não é você o confuso, sou eu.

Não é você, sou eu. Não é você que some da minha vida sem maiores explicações. Sou eu que espero demais de uma relação que já deu mais errado do que certo, e só eu que não consigo entender. Não é você que tem culpa em continuar me procurando e, depois de um tempo desaparecendo da minha vista. Sou eu que tenho que parar de te atender toda  vez que você volta e aprender a dizer não, por mais que a vontade do sim seja maior. Não é você que tem que me querer, sou eu que preciso não te amar mais.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Tudo que eu poderia te dizer


Eu podia te dizer que sinto saudades. Que não tem um dia sequer que não penso em você. Podia dizer que só não te ligo por medo de você já ter me esquecido, ou de nem me atender. Eu podia te dizer que pra mim não acabou e que não consigo seguir em frente. Que minha vida parou no dia que você saiu dela, e podia dizer que te quero de volta, como nunca quis tanto alguma coisa antes.

Eu poderia falar que queria te ver. Que fico te lembrando pelo que ainda tenho guardado na memória e que sinto saudade do seu cheiro que ainda não consegui esquecer. Poderia te falar que revejo nossa história antes de dormir, dentro do ônibus, num barzinho cheio de gente e no meio do trabalho. Que rezo pra você me ligar e voltar correndo. Eu poderia te dizer que é só isso que eu quero e mais nada.

Eu podia te mostrar cartas que escrevi durante esse tempo que estamos longe, e te mostrar que mesmo com a distância, ainda te mantenho envolvido nos meus dias. Podia te dizer que não conheci ninguém que conseguisse tirar meu pensamento de você, nem que fosse por alguns minutos. Que eu te amo com todas as minhas forças e que ainda acho que eu poderia ser o amor da sua vida.

Eu poderia te dizer que me arrependi de tudo, te pedir desculpas e implorar por uma nova chance. Que eu mudei de verdade e agora sou aquela pessoa diferente do que sempre fui, e que essa mudança toda foi só pra você. Poderia te receber de braços abertos pra ficarmos juntos de novo, e te dizer que eu sempre soube que você iria ser alguém melhor pra mim, também. Poderia, só que hoje, eu não vou mentir.