terça-feira, 29 de novembro de 2011

Difícil

Terminar um relacionamento é uma das coisas mais difíceis que existe. São inúmeras e completamente distintas todas as dificuldades: perceber que já não há amor ou vontade de ficar junto; tentar em vão fazer com que as brigas parem; procurar já sem esperanças a paciência que foi embora com o tempo; recuperar a confiança que foi quebrada; o medo de magoar, de se arrepender, de querer voltar atrás e pior, de ter ainda mais certeza de que acabou. Não é à toa ser tão comum o tempo que ficamos "empurrando com a barriga" diversas relações, pelo medo de terminar e enfrentar o que é tão difícil: o fim.

A gente tem medo das noites difíceis que virão, afinal nem sempre estaremos bêbados demais pra esquecer, ou acompanhados com uma distração qualquer. Os dias sozinhos, sóbrios e com saudade virão, e sabemos que nunca estamos preparados pra eles. O medo de não ter forças pra não ligar e acabar se arrependendo na hora do alô é do tamanho da certeza que a sensação de querer voltar atrás vai chegar e te dominar até a luz do dia, quando geralmente estamos mais fortes e com mais segurança de que é mesmo melhor assim e já já isso tudo passa. Sempre passa.

É muito difícil evitar falar na pessoa ainda amada, ou ainda lembrada. É difícil desconversar quando não se quer falar sobre ela, afinal. Responder tantas vezes por que foi que não certo, quando nem você sabe, ou não gostaria de saber. Será que as pessoas não acham que a gente sempre guarda uma esperança imensa de que nossas histórias de amor possam supreender? Será que não percebem que é muito difícil ter que repetir em voz alta os erros que cometemos, e que nos foram cometidos? Podemos demonstrar uma segurança infinita, mas ninguém sabe realmente a dificuldade que carregamos do lado de dentro.

Sabemos que dor de amor passa e ninguém morre disso; sabemos que é preciso paciência e tempo, que nada é pra sempre e que as coisas não mudaram, nem vão mudar. Mas é difícil não pensar diferente na hora de dormir. Só a gente sente a dificuldade de não criar frases e situações na nossa imaginação; só a gente sabe medir a força de não procurar e seguir em frente, morrendo de vontade de não sair do lugar. A gente se agarra a um sem fim de esperanças que não consegue largar mão porque é muito difícil, torcendo pra que um dia, entendamos que valeu a pena não ter sido fácil.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Todo mundo tá feliz

A geração das redes sociais trouxe uma imensa felicidade mentirosa. É um sem fim de pessoas extremamente felizes e que sabem aproveitar a vida como ninguém, fazendo as melhores viagens, bebendo as cervejas e vodkas mais caras, frequentando os lugares mais legais do momento. Coincidência ou não, são essas mesmas pessoas que, assim que bate o 'gole da bad' ou toca 'aquela música', procura um ombro amigável para desabafar as dores que vem tentando esconder embaixo dessa felicidade toda que insiste em mostrar sentir.


A felicidade extrema, que necessita demonstração através de fotos, frases e publicações animadas, vem acompanhada de pessoas amigáveis, talvez não tanto de amigos. Nem todo momento é de alegria; infelizmente a vida também é feita de aborrecimentos, e é aí que sabemos quem são os amigos e a diferenciar esses das companhias amigáveis. A efusividade constante é típica dos adolescentes, e é saudável que ela exista e seja vivida durante a época certa. Poucas coisas são mais ridículas do que marmanjos se comportando como se estivessem na puberdade.


A linha entre ser feliz quando os momentos bons acontecem, quando as pessoas especiais aparecem, e a necessidade de demonstrar uma alegria sem intervalos pode parecer tênue, mas não é. Quando estamos sofrendo, esconder a ferida para que ela não doa ainda mais estando aberta é mais do que normal: se proteger é preciso. Mas viver a própria dor também é. Parece que as pessoas não andam vivendo as coisas no momento adequado, e é aí que a linha nada tênue vira de lado e o ridículo acontece. A necessidade de estar com alguém ou rodeado de gente, beber demais ou barulho; tudo para preencher o vazio que existe,


Enfrentar as nossas dores, como próprio verbo diz, dói. Fugir e camuflar enquanto pode, principalmente para todo mundo ver, é válido, mas uma hora a superação deve acontecer. Senão, anos depois, vai ser como se o tempo não tivesse passado, e tudo que engolido com as doses e garrafas de Antarctica vai voltar sem pedir licença, confundindo o que talvez pudesse dar certo, te fazendo perder oportunidades sem saber se teria valido a pena. É ótimo mostrar que estamos felizes, mas quando realmente estamos, é tanta felicidade que só vivemos, e acabamos esquecendo de postar no Facebook.



quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A história que a gente conta

A gente nunca conta as coisas como elas realmente aconteceram. É inerente ao ser humano (principalmente ao ser humano apaixonado, ou magoado) mudar a versão dos fatos que acontecem na própria vida, pra ver se, de alguma forma, dói menos. A gente inventa frases que não foram ditas e apaga verdades que não gostou de ouvir. Cria intimidades que não existiram, ou supervaloriza algo vazio, preenchendo com todo o amor e comprometimento que gostaríamos que tivesse existido, mas que não existiu. A gente passa pela fase de se culpar pelo que não deu certo, passa pelo período de tentar achar respostas e, quando vê que nada disso vai funcionar, simplesmente aceita e faz o mais fácil: escreve uma história pra contar pros outros, e até pra gente mesmo.


Uma das coisas mais difíceis de terminar um relacionamento é ter que contar pros outros. A mesmas história já começa com três versões: a sua, a do seu respectivo e a verdadeira. Dali por diante, esse número só aumenta. Sua família vai saber de coisas que seus amigos não vão, e ainda assim isso pode variar, porque tem gente que confia nos pais, nos irmãos - mas tem gente que não. Dentre os amigos, para cada um, um detalhe que vem e um detalhe que se vai. Não é que você não confie, mas aquele seu amigo previu sua relação do começo ao fim, e hoje, você não quer lhe dar o gostinho de saber que ele estava certo. Quem sabe daqui a um tempo você não conte. Mas hoje, você vai fugir enquanto pode de ouvir "eu bem que te avisei".


Não deveria ser tão difícil falar aos nossos amigos, aquelas pessoas que escolhemos amar e com quem dividir os momentos da nossa vida, sobre nossos fracassos. Por que essa dificuldade de falar da nossa dor, quando sabemos que tanta gente, tantas vezes, já sofreu como a gente, e já fez tanta besteira igual a gente? O medo do julgamento existe porque já julgamos, um dia. Já apontamos o dedo na cara de quem sofria, e por mais que tivéssemos avisado, por mais idiota que tenha parecido esse sofrimento, doeu, e mesmo assim, julgamos. Quando a gente desdenha do sofrimento alheio, esquece que um dia chega a nossa vez, e quando chega, a gente inventa história e acaba mudando a verdade.


Seria tão mais fácil se simplesmente pudéssemos chorar todas as feridas que estão abertas. Os amigos são o merthiolate e as gazes pra poder sarar e tapar nossas dores, enquanto elas não cessam. A função do ombro não é apontar as falhas, por mais que aponte, afinal amigo que é amigo não consegue assistir o barco do outro afundando sem fazer nada, sem avisar onde estão os furos, sem oferecer a mão pra sair de lá. Mas independente do naufrágio, é preciso superar tudo isso. É preciso que nossos amigos não criem uma história, não pra gente. Que eles saibam que tentamos avisar, mas se eles precisavam sofrer aquilo tudo, que assim seja. Que eles saibam, mais ainda, que estaremos sempre aqui, pra ouvir qualquer uma das histórias que ele queira nos contar - principalmente a verdade.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Fim. E pra mim?

Será que tá certo isso?
Essa distância
Essa falta absurda de importância
Que estamos dando pra nós dois?
Não é isso que eu quero
E espero
Que nem você
Que foi que eu fiz pra te perder?

Perder você
Perder tudo
Você foi embora do mundo
Assim
Sem mais nem menos
Ainda acho que temos
Muito que conversar
Tentar se entender
Não tem por que
Tudo isso
Mas se você não concorda comigo
E acha que não há mais o que dizer
Fazer o que, eu entendo
Vou aceitar que perdi você

E se eu falhar
Me desculpa
Não é de toda minha a culpa
É esse coração
Que ama sem nem pensar
É essa cabeça que tenho aqui
Que pensa sem nem sentir...

Nina Lessa, em 24/02/2005.