quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

De 2018

É muito amor que ficou aqui. A gente acabou e eu fiquei sem saber o que fazer com tanto sentimento. Quem que eu vou amar? Saí amando os amigos mais ainda, sufoquei os sobrinhos e afilhados, fui amando cachorro e gato. O amor fica e a gente fica sem saber pra onde ir, sem saber pra onde amar.

E é por isso que eu tenho que tomar cuidado e não amar de graça. Veja bem, não é por mal. Mas se deixar, eu abraço causas que não são pra serem minhas só porque sobrou vontade de abraçar literalmente. Sobraram cafunés que não dei, carinhos por baixo da mesa, da coberta e no banco de trás do Uber; sobrou mão dada pela rua. Sobrou.

Quando o amor fica sobrando, a gente quer derramar. Primeiro a gente espalha por quem tá por perto, e quando não é suficiente, quando se torna sufocante, a gente conhece gente nova pra pensar que o amor é novo. Mas ele é só o amor velho querendo amar de novo. 

E tá certo ele: amor é pra amar, pra postar nos stories primeiro e na timeline depois. Amor é chamar pra ir no aniversário do amigo, apresentar pra família e pro animal de casa conhecer o cheiro. Só que tudo isso tem que ser de verdade, tem que ser um amor brotado e não reaproveitado da colheita anterior. Aqui ainda não tem muda, mas já tem raiz antiga indo embora.

Cada dia eu arranco um pedacinho de você. A laser. Na unha. É um show que toca a nossa música e eu consigo deixar passar. É um assunto que te lembra, mas eu esqueço de mencionar seu nome. É um seriado que você iria amar, mas eu indico pra outra pessoa e é com ela que eu comento os episódios. 

Devagar, mas vai. Vai porque você foi. Vai porque eu preciso ir, também. Vai ser difícil, não porque o que é fácil não é bom - a gente era fácil e foi ótimo, mas tem que ser devagar pra ser de uma vez. Pra quando chegar o dia do “eita! passou”, ter passado de verdade e eu poder sorrir com a sinceridade que eu sorri quando percebi que te amava.

Só no aguardo pra quando o próximo você irá chegar.

Nina Lessa/2018.

2017/2018

Eu morro de vontade de sabotar minha promessa. Fingir que não vai me fazer mal responder a sua mensagem que eu consegui até hoje não visualizar. Fingir que você não tem alguém, tentar te tirar de onde você me tira sem nem saber.
Eu morro de vontade; quantas vezes não digitei sem mandar?! Já nem sei mais. É musica, é série, é qualquer coisa porque a gente era tudo, né? A gente falava sobre todas as coisas, então não tem como não morrer de vontade sobre todas as coisas.
Eu morro de vontade de usar a minha saudade e fingir que a gente vai dar certo. Fingir que vou abrir mão do que não tem espaço se a gente ficar junto. Eu digo pra mim mesma que tem sim, e que não é a vodka falando. Até que eu fiquei sóbria.
E aí eu morro de vontade, mas sei que é fingimento, que tem promessa e que ela existe porque eu me poupei. Eu pedi pros céus me ajudarem a não me fazer sofrer mais. Eu pedi amor próprio, auto estima e força de vontade.
E no final do período você me ligou. Será que você sabia da promessa? Pareceu. E eu atendi. Não tinha mais seu número e a memória do telefone não me avisou que era você. Ela sempre avisa, mas naquele dia, não.
Então foi a minha vez de dizer “não”. Cada poro do meu corpo implorava pra que eu dissesse sim. Pra que eu largasse tudo e mentisse pra mim mesma que no dia seguinte estaria tudo bem, quando cada um voltasse pra sua vida, sem o outro.
Meus poros precisavam entender que você já não é mais meu porto porque você não quer, e que eu já não sou mais o seu porque você não me vê mais assim. A autoestima me dá forças que os resquícios de amor e saudade se recusam a entender.
Eu não sei por mais quanto tempo, mas ainda não curou. Neguei até onde pude que estava tudo bem, mas a verdade é que não está e olha: não tem problema. Me abracei e falei pra mim mesma que ia dar tudo certo.
Porque sempre vai. Mas até lá, sou eu ou você. E se em uma coisa que você me ensinou, é que nós mesmos estamos sempre na frente, mesmo de quem amamos. Aprendizado completo: dessa vez eu escolho eu. E sou eu daqui pra frente.
Nina Lessa
2017/2018.

Como é?

Como é?
Já não lembro mais como ama
Nem como é se apaixonar
Mas também já esqueci como se sofre
Como dói aquela dor de quase morte
Então na balança, prefiro como está.
Pensar antes de dormir
Mandar mensagem quando acordar
Faz pouco tempo, não vou mentir
Mas o vazio ocupa espaço
No tempo de dentro e do calendário
Então ainda não quero me apaixonar.
Tem mais vantagens do que a falta delas
Não ter aquele um pra contar
Porque a gente lembra dos amigos
Que no fundo, não está sozinho
E mesmo se estiver, ainda é melhor que se ferrar.
Um dia o amor sempre chega
Porque se apaixonar não é controlável
Mas a ansiedade, a carência, o tesão
Quando a gente aprende a dizer NÃO
Podem fazer parte do evitável.
Aí quando for a hora exata
(E provavelmente vai ser do nada)
Não vai ter mensagem no WhatsApp
Foto do amigo no Instagram
Que te façam pensar duas vezes.
Quando chegar
A hora e a pessoa
Porque virão juntas, se lembra?,
Aí seu coração abre sozinho
Arranca na unha os espinhos
E tudo vai ter valido a pena.
Nina Lessa
Dezembro/2017.