segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Devaneios (2016)

A gente não tem mais nada pra conversar. Não, eu não tenho raiva de você. Só não entendo por que tem que ter pingos nos "is". Você não quis assim? Não tem certeza do que sentia, ou do que já não sentia mais? Então não tem pingo. Eu já entendi e fui embora como você me pediu. Não te procurei e tentei facilitar ao máximo pra você. Nem precisava, mas contava que isso não deixaria brechas pra você vir me magoar de novo. 

Mas você veio. Pra que? Só te pedi isso: não me procure mais. Nunca mais. Não quero mensagem, ligação, nada. Não somos amigos, não força a barra. Se um dia formos, ok. Mas não é o caso. Não hoje. Então pra que, cara? Você viver a sua vida como quer e eu viver a minha não é o suficiente? O que mais você quer? Se sua consciência não está em dia, aí o problema não é meu. Conviva com as suas escolhas e atitudes, ué. Eu não convivo com as minhas? Nem tive escolha, mas tô indo bem. No mínimo, faça o mesmo. 

No mais, eu não vou te responder. Não importa o que você diga. Eu não caio mais. Já caí e me arrependi como nunca me arrependi de nada nessa vida. Então é isso, peguei o erro e transformei numa boa experiência de aprendizado. Talvez demore um pouco até que me encontre de novo, e aí me encaixe em outra vida. Não sei, na verdade. Mas isso não te interessa mais. De você eu só quero distância. E sumiço.

Nina Lessa (2016)

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Você vê que é hora

Você vê que é hora de largar a toalha quando a luta tá mais sangrenta do que suada. Porque não precisa estar fácil; porque às vezes a gente sangra mesmo, faz parte. Mas não é pra ter hemorragia. Se tiver, é emergência. E a intervenção só pode ser durante o sangramento. Depois é cura. Não pode mais ser luta. Aí você deixa o ringue.

Você vê que é hora de largar o osso quando nem sente mais o gosto da carne. Às vezes demora pra notar porque o gosto já ficou no paladar. A gente se acostuma ao que já foi bom, ao que existia. Porque com o tempo, muda, mas continua existindo. Continua sendo bom, mesmo que de outra forma. Mas só o osso? Sem nem sinal da carne? Larga.

Você vê que é hora de ir embora quando sua presença já não é mais esperada. Quando não tem ansiedade, sorriso ou novidade pra contar. Vê que é a hora quando a vontade já não é visível nem sentida. Quando não se sente mais querido, é só um amigo, ou talvez nem isso. Sai. Vai.

Você vê que é hora de fechar a porta quando o lado de dentro nem se mexe. Não faz mais questão. Porque já não faz diferença. E não quer que faça. Você percebe que a vontade de não ir é mão única, e faz dessa falta de reciprocidade uma vontade ainda maior de fechar e deixar a chave por baixo da porta - porque você não vai mais voltar.

Você vê que é hora de não olhar pra trás quando vê que a toalha ficou lá mesmo. O osso, também. Você foi embora e não teve pedido pra voltar. A porta não abriu, a chave não foi devolvida. É hora de não olhar pra trás porque não é lá que está a sua vida. Não mais. É hora do foco, da força e quem sabe da fé de onde quer que esteja sua auto estima: você vê que é hora de largar o que já não é amor.

Nina Lessa (2016)

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Como hoje

Não é que eu não te ame. É claro que eu amo. Mas e daí, se não dá certo? A gente não consegue; a gente não se aguenta. Mas ao mesmo tempo se completa tanto, mas tanto. E é esse tanto que me atormenta. Nesses dias que cansei de fingir que não. Nessas horas de "será que ainda dá tempo de ligar?", como hoje. 

Só que volta o "ligar pra que", e me pergunto se não é mesmo melhor assim. Lembro que já passei por isso antes, e que todos esses questionamentos passam. Que a paixão passa e talvez até o amor. Tenho só que esperar. Não sei até quando, nem o quanto ainda vai doer, mas só me questiono em dias como hoje.

Espero com a ansiedade de quem quer que acabe logo, ou que não precise acabar: você vai perceber que me ama, pelo amor de Deus, como foi que não viu antes? Vai aparecer aqui em casa e me levar embora, pra sempre. Aí eu lembro que você já fez isso, e eu fui. Mas aí você viu que não era bem assim. Mas hoje...

A razão deixa a gente pisando no chão, e aí a gente lembra que pisaram no que a gente sente, no que a gente sonha. E não tem razão perdida, mesmo em dias como hoje, que me deixe sair do bom senso, do amor próprio de saber que amor é coisa que não se explica e cada um sabe do seu, mas sabe? Hoje eu sei que talvez não seja amor, e sim saudade.

E saudade eu sei que passa. 
Dá, mas passa.

Vou passar um café, pra passar mais rápido. 
Até voltar.

E quando voltar, que já esteja outro amor por aqui.

Nina Lessa