quarta-feira, 9 de julho de 2014

É a carência

É a carência que te engana, e você pensa que um pouco de solidão é saudade; que um momento de saudade é amor. A gente pensa que é paixão, mas é só um momento que preencheu um vazio.

É a carência que faz parecer pra sempre, pra nunca mais; que a esperança realmente nunca vai morrer. A carência não deixa a gente ver que não é fim da esperança: é só um pouco de bom senso.

É a carência, nada mais que carência, essa impressão de amor da vida, de alma gêmea, porque logo passa, as brigas voltam, a falta de respeito, de amor próprio e de paz, também.

É a carência que nos imagina numa relação que pode nem existir mais - que não deveria existir mais. É a carência a nossa miopia, que sem enxergar, achamos que sentimos.

É a carência de gente, de companhia, de sensação de ser amado. Uma briga dentro de casa, um trabalho que foi mal feito ou desatento. A carência vai te fazer achar que a solução está do lado de fora, não dentro de você.

É a carência que move relacionamentos fracassados, e não a solução pra qualquer solidão. Depois de um tempo, a gente nota; a gente sempre nota.

É a carência que traz a falta de memória: a gente esquece completamente que as coisas passam e que nada é eterno, nem o que é bom, nem o que é ruim. É a carência que apaga razões, de racionalidade e de motivos.

É com a carência que a gente briga, e é só se esforçar que a gente vence, porque ela passa com a mesma velocidade que vem. Mas tem que brigar, todas as vezes.

Porque é a carência que impede a gente de dar os passos mais importantes da nossa vida: aquele que nos tira do poço onde caímos todas as vezes que deixamos que ela vença.

É a carência que nos traz muita gente; e é ela que nos impede de deixar que elas vão embora pra que quem realmente deveria ficar finalmente chegue.

Por Nina Lessa