segunda-feira, 31 de maio de 2010

A escolha

Eu sei que tenho que dar um basta. Tá na minha cara que não é amor, nem paixão - é óbvio que o único sentimento meu sobre essa relação é o medo de ficar sozinha. Até ele sabe disso, mas acho que prefere fingir. Apaixonado é assim mesmo, eu também já passei por isso, e no lugar dele nem sei mais se gostaria de ouvir essas coisas. Talvez não. Ninguém engana ninguém, a gente sabe disso. E aí eu vou ficando.

Não termino pelo medo do sofrimento solitário, mas também não dou chance de dar certo. Eu ainda amo outra pessoa, e não lembro mais como é não amar. Tem tanto tempo, meu coração simplesmente não sabe mais o que é estar vazio. Ele sofre, sangra, consegue gostar de forma carinhosa de um ou outro que surge, mas o amor está lá, amando, há uns bons anos. Bom, atualmente os anos são maus.

É uma escolha cruel. Não sou capaz de faze-la - principalmente porque o risco de errar existe, como sempre, e como sempre eu não quero ser a culpada. Chega de erro. Amar já costuma ser um erro em determinado momento da nossa vida, dar um fim no conhecido e apostar no que não faço ideia? Não. Já passei da idade de sair arriscando, de viver desconhecido, de fingir que não tenho medo. Porque eu tenho.

terça-feira, 25 de maio de 2010

O reencontro

- Ah, mentira...

Você pensa, assim que vê a cara da sua ex do outro lado da festa. Nem imaginava que ela estaria lá, mas o mundo é pequeno e idiota o suficiente pra fazer com que amigos em comum sejam mal-educados e levem seu atual-maior motivo de ódio pra perto de você. Fechando com lacinho de fita na cabeça, ela vem acompanhada com um cara. Você nem sabe quem é, deve ser um daqueles pela-sacos que ficavam mandando scraps no Orkut dela, ou puxando papo pelo MSN, com certeza deve ser um deles - você tinha toda razão quando ficava puto com aquilo.

Passa pela cabeça todo aquele período de brigas de novo, as ligações da madrugada, quantas vezes não resisitam e, bêbados, se ligavam, se encontravam e no dia seguinte voltava tudo na mesma, porque uma hora o efeito da cerveja acaba e não adianta, você não confiava mais nela, que não suportava sua desconfiança. Mas agora, vendo as mãos mais macias que você já tocou segurando aquele braço musculoso babaca, você tem certeza absoluta que tinha toda razão pra desconfiar - ela já devia era estar com ele quando vocês namoravam.

Bom, você pensa melhor e percebe que já se foram quase 8 meses que nem se viam, falavam nem nada - só você que ainda fuxica o Orkut dela, mas o seu perfil não mostra as visitas, ela nem deve saber que você ainda a olha de longe. Vai que de repente ela ficou esperando você procura-la? Que nada, ela quem devia ter te procurado, não dizia que sentia saudades toda vez que você acabava ligando? Então. Só se ela realmente não te traía, aí sim meu ciúme doentio era motivo pra ela não ligar. Será?

Você respira fundo, pelo amor de Deus, pára de olhar pra cima e pra baixo evitando que os olhares se cruzem, esse play não tem nem como fazer essa proeza. Se prende nas suas razões pra tanta neurose, ela era gata, cara, lógico que estava te traindo, seus amigos te alertavam tanto. Não era inveja deles, como sua ex dizia. Viu, já tá até com outro, desfilando. Ela me viu. Eu sabia! Abaixou os olhos, respirou fundo - que nem eu. Será que ela não me traía, meu Deus? Sorriu.

- Oi...

Mas você não disse. Só pensou. Sorriu de volta o cumprimento imaginado e pegou de volta a mão da sua namorada - é, 8 meses é tempo suficiente pra estar com outra. E você nunca vai ter certeza se ela ainda te ama. Só porque você não acreditava quando ela te dizia que sim.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O que sobra?

Recebi o seguinte (e único hahaha) comentário no último post:

"A gente enraiza na gente aquilo que a gente acha que é, e esquece que crescemos, mudamos... e queremos continuar contando o mesmo discurso de quando tinhamos 13 anos... Quando falta sonho pra gente o que que sobra?"

Senti que era uma pergunta meio(?) direcionada pra mim... E resolvi responder, afinal comecei a me perguntar o que 'me tinha sobrado'.

Antes de mais nada, é bom lembrar que meu discurso de 13 anos nunca foi meu sonho - eu realmente nunca os tive. Curiosidades, vontades, nunca sonhos.

Sobram-me o que sempre tive: vontades. Hoje, talvez eu esteja me vendo como alguém que deixa as vontades para o lado 'férias': coleciono locais que pretendo visitar nos raros momentos que em que consigo me ver descansando nos próximos meses. No ramo profissional, estou me deixando levar. Literalmente. 'Nina, você pode fazer isso?' e eu estou sempre podendo. Não sei mais se porque quero aprender ou se porque é mais fácil. Só sei que vou. E nesse ir, vai me sobrando (mesmo que eu ache que nunca é demais) conhecimento.

No ramo pessoal, mais precisamente com meu namorado, não vejo momento mais proprício para 'me deixar levar', quando namoro uma pessoa com quem coleciono planos obrigatórios (leia-se 'ele só se forma em alguns bons anos) de fazer muita coisa antes de juntar as escovas de dentes (mesmo elas já estando juntas no meu banheiro, lá em casa). Ele me completa, muito mais do que me sobra.

Sobram momentos ótimos com a minha família, que fez tantos planos, sonhou tanto e não temos com a gente a pecinha pequena que nos deixou no final do ano passado. Sobram lembranças com ela, em todos nós.

Sobram meus muitos e todos muito bons amigos me provando que posso, sim, ter muitos e eles serem bons, nada de 'poucos porém bons' amigos. Eles me deixam felizes - de sobra.

Sobra país, cidade, bares que quero ir, e claro, minhas vontades. De ter filhos, quem sabe, de casar, vai que acontece? De ir pra Globo, de crescer aqui mesmo e minha vontade de ir pra lá morrer com o tempo.

Principalmente, me sobram dúvidas. A gente nunca sabe de amanhã. Mas podem sobrar coisas que sabemos - pelo menos por hoje.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Me faltam sonhos

Me faltam sonhos. Uma vez me disseram que sou mais romântica do que aparento, e que isso transparece nos meus poemas. Que tenho uma sensibilidade incrível, vejam só vocês. Há dois dias, disseram que escrevo meus sentimentos porque escondo, na verdade, evito sentir. 'Procure um terapeuta já, meu bem'. Hum. Sorri amarelo na hora, deixei pra lá. Mas ontem, no meio de mais uma das minhas noites de insônia, eu percebi que não tenho sonhos.

Se eu quero casar e ter filhos? Acho que sim. Na igreja? Pode ser, gosto de festa. Se gosto dos meus empregos? Acho que sim. Se me vejo neles em dez anos? Não faço ideia - assim como não fazia até o dia que comecei em cada um deles, e fui ficando, até hoje. O emprego dos meus sonhos? Pff... Longe da minha imaginação, sério. Eu nem sei porque fui fazer jornalismo, curso que acabo em alguns meses, pra você ter noção do que a falta de sonho faz.

Escrevi poesias durante muitos anos, e (achava que) sonhava entrar na Academia Brasileira de Letras. Escrevia textos, criei blogs - (achava que) tinha o sonho de viver disso pro resto da vida. Mas os caminhos foram surgindo, eu fui indo, e nunca trabalhei fazendo 'o que realmente sonhava'. Por mais louco que isso pareça, eu acho que sou feliz. 'Acho' porque já nem sei mais se posso ser feliz se nunca sonhei com isso e não faço o que sonhava. Posso?

'Sonhava' estar morando sozinha, quase casada e com filhos até os 30, mas quando penso que isso me dá menos de 6 anos para fingir que ainda sou adolescente, entro em pânico. Como assim, eu criando filhos? Vejo uma dúzia de amigas e conhecidas que já têm seus pimpolhos, acho fofo, mas nem por um milhão eu gostaria de ter um pra mim, agora. Ou em poucos anos. Alguns anos. Mais de cinco com certeza. Estou adiando um sonho?

Me faltam sonhos. Não sei o que quero pra mim, onde me vejo em poucos anos, nada muito além, em cinco, sete anos, onde quero estar? Sei lá. Só tenho curiosidades: visitar certos lugares, voltar a outros em que já estive. Sinto vontades, sonhos pequenos, que em férias acho que realizo. Isso conta? Preocupei-me de verdade com essa coisa de não ter um sonho, não ter nascido com aquele objetivo. Acho que sou uma ovelha-negra. Ou deve ser mesmo só a TPM.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Poesia

Parece medo de criança
Rezar pra nunca mais esbarrar
Naquele rosto outrora tão conhecido
Quer longa distância
Mesmo sem mais amor
Que já nem haja mais dor
Ou mágoa, saudade, o que seja
Já se tem até um novo alguém
Que te faz feliz
Fez você ir além
Mesmo assim
Você não quer nem ver
Só de pensar, faz figa
Dá até dor de barriga
Imaginar olhares se cruzando
E cada vez que não encontra
Agradece aos céus,
Quase rezando
Não que vá voltar todo aquele amor
(Se é que era mesmo amor,
Isso nem importa mais)
O que você tem medo
É de perder, de novo, a paz
As noites de sono
As lágrimas que nunca cessavam
Nunca mais sensação de abandono
Você não quer mais esse passado
Então evita, faz de tudo
Diga o que quiser
Só você sabe, e sentiu
Ser tudo num dia
E no outro, uma qualquer.


Por Nina Lessa.