terça-feira, 19 de outubro de 2021

Texto de 2018

 Então a saudade existia e eu nem sabia. 
Que havia falta, que era sua. 
Que doideira, que saudade maluca.


Pensei que tinha te esquecido,
Que nem amor direito tinha sido.
Achava que tinha passado;

Sua vontade
Então pra mim é novidade 
Todo esse sentimento de volta.
De volta ou ainda?
Você tá de chegada ou nem esteve de partida?

Não sei o que pensar.
Porque não deixei de pensar
Em você.

Mas estava convivendo bem com isso,
Não sabendo que era recíproco.
Não faço a menor ideia do amanhã,
Se é que vai ter algum.

O hoje não é certo,
Mas o ontem aconteceu,
Foi você que quis vir.

E agora, você fica,
Ou de novo
Vai fugir? 


Nina Lessa
11/10/2018.

Depois

Depois de um tempo, a gente aprende que amor não é saudade e que lembrar nem sempre é sinal de uma coisa ou outra. A gente aprende que as lembranças vão ficar, mas outras histórias serão escritas, então mesmo que nada seja apagado, inevitavelmente o velho vai perdendo espaço. Depois de um tempo esse presente nada mais vai ser do que um período, que por mais longo e importante que tenha sido, não vai ser maior do que o hoje. Depois de um tempo a gente acaba aprendendo.


Aprendemos devagar, mas um dia o foco muda. A vida mostra cada vez um pedaço de mudança e só nos cabe deixar fluir. Depois de um tempo a gente aprende que o sofrimento acaba e que não tem sentido prolongar dores que já não existem mais. A gente aceita que ficou um tempo inventando esperanças e criando histórias que não tem mais espaço - uma hora, nada mais do que já passou cabe na nossa vida. Depois de um tempo a gente acaba reconhecendo.


Entendemos que é compreensível revoltas e raivas durante um tempo. Sentimentos de ódio e frustração andam lado a lado com o amor que sobrou depois de um fim que não deveria ter sido. É quando passa por todas as fases que a gente consegue esbarrar sem querer bater ou beijar; sem querer chorar ou voltar. A gente aprende, a gente entende, a gente reconhece tudo isso um dia. Mas é só depois de um tempo.


Nina Lessa (2018)

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Texto de 2019

 Não posso chamar de amor, porque já amei e sei que não é assim. Mas eu também não tinha 30 anos, então não sei se junto com o corpo, o coração também está diferente. A ressaca, a dieta, o treino da academia, e os sentimentos podem ter mudado de jeito.

Com 20 anos eu bebia mais, por mais tempo. Dormia pouco e estava tudo bem na faculdade e no estágio. Até no trabalho, dava pra ir direto, depois desconta. Depois dos 30? Nem que eu queira: meu corpo se recusa. Não funciona, a cabeça não acompanha, o estômago pede pelo amor de Deus cadê a água, era pra ter bebido durante. E você até lembra de pedir água no meio do combo...


Perder peso quando mais novo é fácil demais. Qualquer dieta de revista te muda de manequim em alguns dias, se malhar junto então, maravilha da vida. Sem beber  em alguns dias de jogo de futebol, pular um fim de semana e tava fino rápido. A juventude tem suas vantagens.


Vai fazer dieta depois dos 30: a demora é infinitamente maior. Você provavelmente toma remédio. Se não toma sempre, com certeza mais que tomava. Nem que seja um floral, uma vitamina C, uma água morna com limãozinho. As dores de voltar pra academia são maiores, você não dispensam Dorflex escondido do Personal.


Será que agora é assim que a gente ama? Sem alarde, sem pensar o tempo inteiro, sem querer ficar conversando toda hora? Talvez porque exista emprego, afazeres, prioridades, amigos, e você sabe que de amor não se morre, se não você já tava era debaixo da terra? Será?


Porque pensar, você pensa. Gosta de estar junto, faz coisa junto. Mas não tem problema, se não der. Não tem pressa de oficializações, não sente necessidade de rótulos, não tá nem aí pro que os outros pensam. E daí que não tem nome? E daí que você tá bebendo ou pedindo uma Domino’s dose dupla na terça? E se for os dois?


Depois dos 30 eu não sei se já amei. Se amei e não percebi. Se na verdade não era amor, e tudo bem também. Aprendi a melhorar ressacas, comer melhor e até a malhar do jeito certo só aos 32. Será que saber amar de novo - ou saber reconhecer quando for amor- é o próximo da lista?


No aguardo.


Att,

Nina Lessa.

(2019)

Texto de 2020

 Eu não quero falar com você. Não, mesmo. Ando sentindo uma raiva, mais de mim do que de você. Como não percebi antes que isso era uma roubada? Nem posso dizer que os sinais estavam todos ali porque não eram sinais: eram provas vivas e contundentes de que não tinha a menor possibilidade de ser feliz naquela relação.


Você me podava, eu era outra pessoa quando estávamos juntos. Hoje consigo entender o alívio de poder ser eu mesma quando você ia embora. Era alívio. “Ufa, já posso pegar meu telefone sem ele implicar que eu tô no Instagram”, quando você também ficava o tempo todo na rede social.


Me sinto livre, como pode? Pode, né? Eram muitas restrições. Eu achava que tudo ia te chatear. Que tudo seria uma confusão. Porque tinha que ser tudo do seu jeito. Da sua maneira. Agora eu entendi tudo. Como você voltava as coisas pra mim, como se eu fosse culpada de tudo, não importa o que acontecesse. Como eu me deixei ser manipulada dessa maneira tão chula? Eu venho sentindo raiva de mim mesma, que não saí disso antes.


Mas pelo menos não entrei de cabeça. Pelo menos não fui a fundo. Eu sentia. Em cada minuto, eu sentia. Em cada falta de diálogo, de elogio, de conversa sobre nós dois. Sentia em cada mensagem demorada pra ser respondida, quando respondia rápido aos outros. Sentia em cada post de rede social onde não escondia nada, só de mim, só a mim. Como pude demorar tanto?


Provavelmente vai sair um aprendizado. 33 anos e ainda tenho tanto que aprender. Quem diria?


Nina Lessa (2020)