terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Promovendo a discórdia

Desde sempre lembro da minha mãe ensinando tudo na vida com a máxima de que 'nunca devemos fazer com os outros o que não gostaríamos que fizessem com a gente'. Por mais óbvio que essa frase seja, é muito difícil que esses atos sejam concretizados. Por mais que vejamos uma ou outra pessoa fazê-lo, é quase imperceptível, dentro de um mundo em que a maioria, na maior parte do tempo, faz exatamente o contrário. E não precisa pensar muito: você deve ter feito isso ontem, ou hoje mesmo, mais cedo.

Eu faço coisas que não gostaria que fizessem comigo. A maioria delas é reflexo de ações, verdade, mas faço. Muita coisa por intolerância, impaciência, modo diferente de ver as coisas - isso é o que mais acontece. O que pra mim pode ser um absurdo, pra você é a coisa mais natural do mundo e a gente há de aceitar, não tem muito jeito. As histórias de vida das pessoas, o modo como elas lidam com o que lhes cerca, tudo isso e até o humor delas pode causar uma zona quando se trata de 'será que isso é algo que ele gostaria de saber?'.

Bom senso e discernimento são para poucos, mas tem coisas que nos parecem tão óbvias que foram nelas que me apeguei quando resolvi, o máximo que pude, levar em frente o ensinamento da mamãe. Costumei dar conselhos sem ter passado pelas experiências, e por mais sensatos que eles fossem, não adianta, mais sincero do que conselho é compreensão e palavra amiga, é mostrar que a pessoa não está passando por nada à toa, e mais importante, é deixar que cada um faça suas escolhas. As vidas são diferentes, e o que você acha normal para você, desculpa, mas pode não ser para mim.

A forma como as pessoas se metem nas decisões que não lhes cabem me assusta. Não deveria, eu sei. Já são 24 anos vividos, mas nesse caso, AINDA não vivi muitos outros - me dou o direito de achar um absurdo a inveja, por mais escondida que esteja em meio às palavras, que as pessoas têm umas das outras. Quando sofri calada minhas dores-de-cotovelo, não fiquei com inveja de quem era feliz; esperei que a minha vez chegasse. Quando discordei de alguma coisa, perguntei se a pessoa sabia o que estava fazendo. E esperei.

Mas minha mãe também me ensinou que o certo nem sempre é o escolhido, e que mesmo que o mundo quase todo coloque a perna pra gente tropeçar, tem os que não optam por isso, como ela, e como eu. Tem os que ainda ficam felizes gratuitamente pelo próximo, assim como tem quem goste de compartilhar (e até promever) a infelicidade. E agora, mãe, faço o que? Como não sair gritando por aí que está errado, que parem com isso, que não fiz nada, pra que as pedras na mão?

Ela me disse pra abrir as minhas e pedir que entreguem as pedras, não que as taquem. Se não me derem, que eu aprenda a pegar enquanto elas voam: um dia o castelo fica pronto.

2 comentários:

Fabiano disse...

Pois eh, já diria algum louco q ñ sei quem é. "Se a vida te der alguns limões, faça uma caipiroska." hahahaha!!!! Texto mto bom, parabéns.

Monique disse...

Texto sensacional!
Mamãe me ensinou uma coisa: faça a sua parte, sempre. Faça o bem sem ver a quem, e sem fazer alarde.
Hoje mesmo estava indignada com certos comportamentos... Tá cada vez mais difícil ser tolerante, mas se nos deixarmos levar, acabaremos fazendo parte desses que atiram pedras...
Saudade, viu?

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