quinta-feira, 6 de abril de 2017

2016

Eu não queria dizer que ainda te amo. Não queria e não vou. Não interessa se estou mentindo pra mim mesma, ou querendo viver uma dor que não sinto. Eu não consigo sentir saudade porque só consigo enxergar a mentira que a gente foi. Fico entre o alívio de não doer e a tristeza de que nada do que eu sentia existiu além de no meu coração.

Eu queria acreditar que você me amou, mas só consigo ver seus olhos vazios em cada "eu te amo" pra dentro e em cada "eu também" de resposta. Queria aceitar que houve amor e que, um dia, acabou, mas só consigo me ver cada vez mais distante de tudo que já vivemos - ou que achei que vivemos. Das coisas boas e também das ruins. E não sei se isso é algo tão bom assim. 

Não queria sentir raiva de você por não ter sido nada. Não queria sentir raiva de mim por ter ficado, mesmo sentindo tudo isso. Porque eu sentia. No fundo, eu sentia. Fiquei me enganando até onde você não aguentou mais. Nem fui eu que joguei a toalha. Quão covarde? Quão esperançosa? Nunca vou saber. Nem você. 

Não quero te ver, mesmo sabendo que um dia vou acabar vendo. Não quero pensar nisso, mas quem disse que consigo? Projeto situações e reações, minhas e suas. Só de não querer, já quero; só de me esforçar pra não pensar já penso. Qual a solução pro que nem problema é? Como acabar com uma mágoa que não quero mais ter, mas insiste em doer? 

Queria te apagar. Não só de dentro de mim, mas da minha história, como se você não tivesse existido. Já que tudo que pensei que fomos não foi real, que você também não seja. Amém. E que (me) amem.

Nina Lessa (2016)

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