quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Texto de 2019

 Não posso chamar de amor, porque já amei e sei que não é assim. Mas eu também não tinha 30 anos, então não sei se junto com o corpo, o coração também está diferente. A ressaca, a dieta, o treino da academia, e os sentimentos podem ter mudado de jeito.

Com 20 anos eu bebia mais, por mais tempo. Dormia pouco e estava tudo bem na faculdade e no estágio. Até no trabalho, dava pra ir direto, depois desconta. Depois dos 30? Nem que eu queira: meu corpo se recusa. Não funciona, a cabeça não acompanha, o estômago pede pelo amor de Deus cadê a água, era pra ter bebido durante. E você até lembra de pedir água no meio do combo...


Perder peso quando mais novo é fácil demais. Qualquer dieta de revista te muda de manequim em alguns dias, se malhar junto então, maravilha da vida. Sem beber  em alguns dias de jogo de futebol, pular um fim de semana e tava fino rápido. A juventude tem suas vantagens.


Vai fazer dieta depois dos 30: a demora é infinitamente maior. Você provavelmente toma remédio. Se não toma sempre, com certeza mais que tomava. Nem que seja um floral, uma vitamina C, uma água morna com limãozinho. As dores de voltar pra academia são maiores, você não dispensam Dorflex escondido do Personal.


Será que agora é assim que a gente ama? Sem alarde, sem pensar o tempo inteiro, sem querer ficar conversando toda hora? Talvez porque exista emprego, afazeres, prioridades, amigos, e você sabe que de amor não se morre, se não você já tava era debaixo da terra? Será?


Porque pensar, você pensa. Gosta de estar junto, faz coisa junto. Mas não tem problema, se não der. Não tem pressa de oficializações, não sente necessidade de rótulos, não tá nem aí pro que os outros pensam. E daí que não tem nome? E daí que você tá bebendo ou pedindo uma Domino’s dose dupla na terça? E se for os dois?


Depois dos 30 eu não sei se já amei. Se amei e não percebi. Se na verdade não era amor, e tudo bem também. Aprendi a melhorar ressacas, comer melhor e até a malhar do jeito certo só aos 32. Será que saber amar de novo - ou saber reconhecer quando for amor- é o próximo da lista?


No aguardo.


Att,

Nina Lessa.

(2019)

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