sábado, 14 de maio de 2011

Cheiro

Não conheço perfume, não sei os nomes nem dos que eu uso. Não sei identificar marca, coleção, números, nada. Perfume eu (re)conheço pelo cheiro. Não sei dizer se é doce, amargo - nem sei como se diz essas coisas. Sinto o cheiro e é como se estivesse com ela, em algum tempo atrás, mesmo ontem ou hoje mais cedo. O cheiro traz as pessoas pro lado, quase tão rápido quanto o pensamento; quase como a saudade.


Tem cheiro que traz saudade. Não precisa ser de certa comida ou restaurante, mas quando é, você lembra de um local ou data, não é verdade? Não precisa ser cheiro de limpeza, de madeira, de tinta ou qualquer cheiro forte. Não importa, por mais que você não identifique "cheiro do que", é simplesmente um cheiro que você já conhece, e por algum motivo (e que seja ele bom), te faz lembrar de coisas que já viveu. Nem que tragam memórias ruins - na pior das hipóteses, menos mal que essas lembranças, agora, são só o passado.


O cheiro consegue seduzir e afastar com a facilidade de uma atração física, de um sorriso irresistível ou de uma gentileza inesperada, depende do que te encantar primeiro. Cheiro fica no lugar quando você se vai, e às vezes vai junto com o dono, nem sempre correspondendo às nossas vontades. Cheiro tortura por fora através do olfato, quando a saudade já nos torturou todos os sentidos por dentro. O cheiro fica no travesseiro, no pijama que não foi lavado, na camisa esquecida. A memória um dia se vai, mas o cheiro... Depende do fixador.

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