Não conheço perfume, não sei os nomes nem dos que eu uso. Não sei identificar marca, coleção, números, nada. Perfume eu (re)conheço pelo cheiro. Não sei dizer se é doce, amargo - nem sei como se diz essas coisas. Sinto o cheiro e é como se estivesse com ela, em algum tempo atrás, mesmo ontem ou hoje mais cedo. O cheiro traz as pessoas pro lado, quase tão rápido quanto o pensamento; quase como a saudade.
Tem cheiro que traz saudade. Não precisa ser de certa comida ou restaurante, mas quando é, você lembra de um local ou data, não é verdade? Não precisa ser cheiro de limpeza, de madeira, de tinta ou qualquer cheiro forte. Não importa, por mais que você não identifique "cheiro do que", é simplesmente um cheiro que você já conhece, e por algum motivo (e que seja ele bom), te faz lembrar de coisas que já viveu. Nem que tragam memórias ruins - na pior das hipóteses, menos mal que essas lembranças, agora, são só o passado.
O cheiro consegue seduzir e afastar com a facilidade de uma atração física, de um sorriso irresistível ou de uma gentileza inesperada, depende do que te encantar primeiro. Cheiro fica no lugar quando você se vai, e às vezes vai junto com o dono, nem sempre correspondendo às nossas vontades. Cheiro tortura por fora através do olfato, quando a saudade já nos torturou todos os sentidos por dentro. O cheiro fica no travesseiro, no pijama que não foi lavado, na camisa esquecida. A memória um dia se vai, mas o cheiro... Depende do fixador.
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