quinta-feira, 6 de março de 2014

Um poço de mentiras

Ser traído não é fácil. Não tem amor próprio que resista a remota vontade de não querer ir embora. A gente quer tentar ficar, quer tentar saber por que, quer entender onde foi que perdemos o até então amor da nossa vida pra outra pessoa.

Não queremos e nem vamos entender com facilidade ou rapidez que não adianta: não há o que tentar. Não tem por que, não perdemos nada. Mas não adianta. A gente queria que o tempo voltasse é que tudo não passasse de um pesadelo.

Ser traído não é fácil e dói fisicamente. A gente vai rever a cena que viu, que nos contaram ou aquela que imaginamos umas 5.783 vezes. Ou mais. A gente vai culpar o nosso amor, a parte de lá e vai achar que merecemos. Quem é a vítima?

A gente tem ódio e quer matar todo mundo. Ela, ele, os amigos que não entendem, os pais, bando de idiota. Achamos que quando acontece com nós mesmos, é diferente. Que dessa vez as coisas não são bem assim. Que esses conselhos estão todos errados.

Onde a gente se inscreve pro tempo passar mais rápido? A gente pode pedir um tempo pro mundo parar, só pra gente se recuperar? Não. Quem dera. Mas a gente pode ter uma corda pra tirar a gente do fundo do poço. É quando ele chega.

Nosso amor próprio chega pra contar que não dá mais. Que dói, mas que vai passar. Que a gente acha que quer voltar, mas um dia vai agradecer a ele, ao amor próprio, por não ter voltado. Ele joga na nossa cara que é isso: faz parte. É a vida.

Mas não vai ser logo, não vai ser fácil e a vodka só vai ajudar se não tiver telefone por perto. Não vai ter nada que resolva sozinho, mas somando com o tempo, uma hora passa. A dor no ego, no coração e na nossa auto estima, que jogaram no lixo.

E quando passar, a gente vai conseguir perdoar mais do que as pessoas; vai perdoar as atitudes, vai perdoar a falta delas e de palavras; vai perdoar o que foi dito e que não deveria. Quando passar, a gente vai perdoar a gente mesmo por achar ter sido culpado.

Filho da puta é quem não dorme de consciência tranquila.

Por Nina Lessa.

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