quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Só por hoje

Eu sempre pensei que o término de uma relação simplesmente segue os mesmos passos de uma desintoxicação. Alimentar, de álcool, de drogas, de cigarro. Antes de mais nada, é preciso estourar a bomba, chegar num ponto em que não dá mais. Uma briga irreversível (?), uma mentira imperdoável descoberta, falta de amor ou pé-na-bunda. Alguma maneira de deixar claro que acabou; uma overdose, um problema sério de saúde, queixa na delegacia, um camarão ruim.

Depois, é preciso que você queira. Porque ninguém consegue se não quiser, não tem Cristo que faça este milagre. Procura ajuda, ou aceita a que lhe foi dada. Interna-se, joga as garrafas fora, faz promessa, não entra em Orkut. Esquece que o telefone existe, procura os amigos, pára de freqüentar certos lugares, faz uma viagem. Permita-se um tempo, dá-se esse tempo. É preciso.

É preciso que se saiba: o começo é assim mesmo. A gente sofre de abstinência, chora, treme, sente frio e calor ao mesmo tempo. Mente pra si mesmo, achando que os outros acreditam. Tenta fazer escondido, sofre, e a dor é real, chega a ser física. É assim mesmo, quando a gente está acostumado a alguma coisa e de repente não tem mais, a tendência é se perguntar por que, sofrer por isso, inventar desculpas. Vale a pena tudo isso? Vou desistir.

Demora, tem gente que dessa fase não passa, mas pra quem foi adiante, começam os remédios. Você está limpo, mas sabe que ainda não está forte. Vai enganar a quem? Fica longe mesmo. Geograficamente, mentalmente, evite. Sai pela tangente, não vai lá porque sabe que vai encontrar. Um copo de cerveja, um maço de cigarro, ele. Pra que a cura seja definitiva, é não e pronto. Pelo menos enquanto a certeza de que se está forte o bastante não existir.

Mas agora você já sente o cheiro da tequila e não morre de vontade. Olha de longe aquele cigarro, fecha os olhos e vai embora. Ouve o nome dele e tudo bem, o coração bate mais forte mas pode ser porque você subiu muito rápido aquelas escadas, por que não? Você ainda não consegue negar um copo se te oferecem, não agüenta um tabaco tão perto, reza pra que seus caminhos não se cruzem, mas o caminho é esse.

Um dia você acorda e percebe como sua casa é mais cheirosa sem o cigarro. Até sentir o gosto das coisas você já vem conseguindo, olha que legal. Podem beber, eu fico na Coca. Ah, ele perguntou por mim? Não, não quero saber como ele vai, obrigada, estou bem assim. Mande lembranças, e que ele seja feliz como eu sou hoje, que ele encontre a pessoa certa que eu nunca seria, e hoje sei que não. Por que ele é demais pra mim? De menos? Não. A gente só não se encaixa do jeito que eu pensava. Parei de beber.

4 comentários:

Unknown disse...

Perfeito. Metafora excelente

Alice disse...

Caramba, so ja passou por isso sabe.Exatamente assim.
Belo texto.

Nina Biehhorff disse...

Uhull..muito legal o texto.. é exatamente assim..
eu sou a sabrina que falou com vc ontem no msn da transa..bjão

"Napo" disse...

Obrigado pela visita, espere mais pois ha muitas histórias do Jarbas, da Creuza, do chef Frau d'...
Gostei também do seu blog. Lindinho, um mimo, muito interessante. Gostei também do título Tchutchu.
Como são as coisas, vosmecê já tinha um blog e nem me convidou para dar uma bizutiada, né? Tudo bem, eu desculpo...rsrsrsrs Continue assim, em breve será o lançamento do livro - Momentos da Tchuchu, uma menina comportada. Claro que um prefácio meu...hehehehe....Sssssmack's de alegria e satisfação..."Napo"

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