quarta-feira, 10 de março de 2021

Janeiro/2021

Sou completamente contra cirurgias, mas você eu removeria de dentro de mim. Sem dó nem piedade. Você teve dó ou piedade quando mentiu pra mim? Quando me manipulou o tanto que fez? Então eu removeria.

Eu abriria mão de todos os momentos que a gente viveu. De todos os que foram alguns dos melhores que já vivi. Por mim, tudo bem. Prefiro não ter vivido do que não conseguir esquecer mais. Prefiro arrancar na raiz.
Dor que vira aprendizado eu sei que passa, mas esse até lá é que mata. Mata fisicamente essa dor de saudade, essa dor de amor próprio em dia, autoestima tranquila, mas momentos de “que merda ter amado errado e tanto assim”.
Eu dispenso a lição, removendo você. Dispenso a carcaça mais forte daqui a uns anos, o coração calejado e a maturidade emocional que chegarão. Pode levar. Remove cada raspa de lembrança das fotos em que você não tá, mas a presença é vista no meu sorriso. Em cada mensagem que nem precisava ser apagada. Você era mais forte que qualquer coisa.
Então remove. Se for mais demorado com a anestesia, nem precisa. Eu trocava vacina de covid por um vazio em paz. Vazio de dor é soma de ausência. É vazio que já foi totalidade de presença, por todas as partes. Você existe onde nunca nem pisou.
Pode remover, doutor, leva tudo. Eu prefiro o nada e o nunca do
que ter tido e depois não mais.
Nina Lessa
Janeiro/2021.

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