terça-feira, 6 de março de 2012

A morte

Saber lidar com a morte é uma das minhas maiores frustrações na vida. Eu simplesmente não sei. As pouquíssimas vezes que tive de fazer isso foram péssimas situações. Quando são pessoas desconhecidas, não sei como me portar diante daqueles que ficaram, com suas dores, no mundo de cá. Não sei o que nem como dizer. Minha cara não permite que eu minta, nem demonstre nada se não dúvida se estou fazendo o certo, ou o esperado. Não sei me portar em velórios, nunca assisti a um enterro. Quando a dor fica em mim, não suporto. Choro alto e acho que o mundo tem a obrigação de dar uma parada para que eu possa sofrer até passar, ou até virar só saudade. 


Reconheço a imaturidade e o ridículo que é tudo isso, mas a morte é, mesmo, um mistério. Não importa se a pessoa tem ou não religião, e se tiver, não importa também qualquer que seja ela. Quando a gente perde uma pessoa muito querida, seja sem "esperar" ou já "preparado", esquece-se tudo o que foi pregado, em que se acredita e a vontade de matar um por um que vem com discursos tidos como reconfortantes é imensa. A gente espera que o mundo sofra com a gente, que entenda a nossa dor e nos deixe sozinhos, ou nos ofereça abraços apertados, compreensivos e solucionadores. Mas nem sempre acontece, e nos conformemos se não houver nada disso.


Não sei terminar relacionamentos e todas as relações com as pessoas mais importantes da minha vida foram terminadas com brigas, sem conversas ou palavras que denotassem um décimo do amor que foi tão sentido, ou um milésimo do peso que fiquei carregando por causa disso nos anos seguintes. Não sei lidar com a morte do amor, da paz, da possibilidade do namoro continuar. E quando a gente não sabe como fazer alguma coisa, raramente tentamos de qualquer jeito, com medo de fazer uma besteira. O mais comum é largar de mão, desistir no meio do caminho e deixar assim mesmo, na esperança de que, um dia, nossa ignorância seja compreendida. Será?


Não sei se as pessoas a quem dei pêsames sabem desse meu bloqueio. Será que os que amo compreendem o escândalo que fiz quando perdi minhas avós e minha prima, ou me acham uma idiota? Acho que nunca vou saber, assim como a incógnita eterna se fui um dia compreendida pelos ex-amigos e ex-namorados que tive. Talvez nunca me contem porque jamais perguntarei, é verdade. Mas talvez mintam, e por isso escolho ficar com minhas dúvidas, porque de certezas, me bastam as mortes que ficaram. Por mais que alguns dias, como hoje, me bata a quase certeza de que alguma delas ainda tenha a chance de reencarnar na minha vida.



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